"NINGUÉM ESTÁ LIVRE DOS DEVANEIOS DE SUA ARTE,
OU DA CHINELADA DA LUCIDEZ ALHEIA." Cleberton O. Garmatz

"Estranhos dias os que vivemos, em que para se destacar em uma área, as pessoas se tornam imbecis nas demais." Cleberton
(Ai dos meus pares, que continuam medíocres em 100% delas...)
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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

FIQUE LIGADO (mas não em certos programas...)

   Recentemente, alguns canais da televisão pátria estão veiculando – de forma inédita, ainda que comedida – algumas produções artísticas de natureza evangélica. Com uma exposição inusitada, o "mainstream" parece contemplar também a atenção dos crentes, fato que, como em quase tudo na vida, pode ser bom ou ruim...

  De início, necessário reconhecermos que essa mídia está precipuamente interessada em lograr proveito comercial, na "onda gospel" (no Brasil, o credo protestante foi o que mais cresceu, nesta década). Logo, a exemplo do que ocorreu com certos modismos sazonais (v.g., samba, rock, lambada, axé, sertanejo, etc.), os meios de comunicação em massa "pegam carona" no gosto popular do momento, em associação ao sucesso de uma personalidade ou produto – descartável, amiúde.

  Nessa esteira, instado por irmãos locais, sobre qual o meu alvitre acerca dessa "parceria insólita", pondero que, naturalmente, é de causar certa desconfiança a participação discreta de cantores e músicos crentes, em um meio tradicionalmente compromissado com as preferências mundanas. Grosso modo, fica aquela impressão de luz e trevas de mãos dadas, no escopo de atrair a plateia brasileira. Contudo, há que se abrigar a ressalva seguinte.

  Se renomados artistas evangélicos são convidados, por algumas rádios e televisões populares, a apresentar suas composições, sem muito espaço para que testemunhem os efeitos da Palavra de Deus e da obediência fiel aos mandamentos de Jesus Cristo, então realmente a situação se revela temerária. Mais ainda, quando essa mídia atrai a atenção do povo crente para a sua programação global (leia-se infernal, na maioria das vezes). Porquanto o efeito desejado pelos missionários-artistas deve ser exatamente o oposto: que venham para a luz da verdade os milhares de espectadores perdidos, contaminados por um mutualismo ou retroalimentação do mal.

  Em outras palavras, portanto, vale dizer que quem já está salvo não deve acompanhar as atrações das trevas, que por mercancia ora recepcionam também os representantes da luz. De outra banda, devem esses emissários agir com cautela, tendo em vista os reflexos de suas concessões para poderem adentrar em terreno tomado pelo inimigo (dimensão espiritual). Enalteço a premissa de que um santo ao visitar um antro não está aprovando, necessariamente, a índole ou a conduta do seu anfitrião. (Assim como fizeram os apóstolos, em imitação ao próprio Cristo, militarão os santos em redutos do pecado somente quando em condições para resgatar os pecadores.)
 
Obs.: Interessante observamos a absorção de gêneros e estilos, no embate cultural-religioso. Ray Charles causou impacto ao transladar, do nicho sacro-"gospel", elementos musicais até então restritos aos louvores. Sua secularização de hinos provocou nada menos que a revolução do "soul" jazzista americano. Em contrapartida, hodiernamente são mais evidentes as diversas variações dos louvores, nas igrejas protestantes (do rock e reggae ao regionalismo).

Para reflexão, nas palavras de FREI BETO: "Não haveria narcotraficantes se não houvesse viciados com seus corações esburacados pela ausência de afeto, de perspectivas, de realização profissional e, com suas mentes atrofiadas pela falta de qualidade no ensino, de livros acessíveis ao bolso e de educação artística. Mas, quando o governo de um país sonega verbas necessárias à educação, paga mal os professores, não exige que a TV - uma concessão pública - contribua para elevar o nível cultural da nação, como estranhar que numa geração deserdada não sejam nítidos os limites entre polícia e bandido, corrupto e profissional realizado, direito à vida e risco de morte?"

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mais uma dica cultural:

Pessoas, assistam ao documentário vencedor do Oscar de 2010 Trabalho Interno (“Inside Job”), de Charles Ferguson, sobre a crise financeira de 2008 (desencadeada pela explosão da bolha especulativa, no mercado de ações e no sistema bancário mundial, propriamente dito). Imperdível, como reportagem-denúncia da indústria financeira.

...E pensar que “os bancos” dão calote na economia popular, são socorridos pelos governos (ou seja, pela própria população tungada, em uma espécie de “duplo golpe”, devido à intervenção estatal graças ao erário). E uma das justificativas principais, para a manutenção do obscenamente elevado índice das taxas bancárias, está no risco de inadimplemento alegado pelas agências (?!!). Bilionário embuste! Caras de pau da década!
Assista ao trailer (legendado), diretamente do youtubehttp://youtu.be/YamDhfIi6Hs

CLEBERTON (Xexéu) apoia:   www.mudeumavida.org.br     (filiado ao ACTIONAID)


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O DIA DA COERÊNCIA

           Postulo a inclusão de mais uma data cívica, no calendário pátrio tão impregnado por feriados destituídos de reflexão nacional.  Um dia para lembrarmos, oficialmente, das deturpações sobre valores supostamente entronizados por nossa sociedade  (ora perpassados por  formalidade ou indução comercial, pois o legado da mensagem histórica foi obliterado pelo desuso).
            Ao patrocínio dessa causa perdida, afirmo sua justificativa pelo encalço do significado das convenções, quando fomentamos uma cidadania tíbia e precária. A qual, no mais das vezes, tão somente tangencia – e não resgata – os compromissos éticos emanados de sua história.  Ademais, vivenciamos anos turbulentos em que as aparências  - não o conteúdo - são a prioridade axiológica.
         Observem-se algumas datas, a título exemplificativo:  Dia da Independência, Dia da Revolução Farroupilha e Natal.  Examinando apenas essas três marcantes ocasiões, resto no exílio social, soslaio no país em que o carnaval é o único feriado que deu certo – porquanto se estende ao longo de todo o ano.
         De antemão, reconheço não ser afeito a apologias de natureza nacionalista. Nesse sentido, meu ufanismo bairrista se limita às cada vez mais breves celebrações na área do futebol. Refiro-me antes ao dissenso das paradas cívicas, calcadas pelos estereótipos, por um sentimento vulgo, raso e algo ludibriado da coletividade. Pois neste imenso território “soberano”, a economia é perdulária e não isonômica, as leis não geram justiça, as relações são amiúde contaminadas por corrupção, violência, descaso e insegurança.  O que temos, afinal, a comemorar diante do mundo?
          Olho para minha própria aldeia, uma pequena nação dentro de outra. Boa parte dos gaúchos ainda sustenta grande orgulho de suas raízes culturais. Contudo, a despeito do espetáculo da Semana Farroupilha (quando a indumentária, musicalidade e gastronomia são enaltecidas), alguém ainda se lembra da causa farrapa? Não foi ela deflagrada justamente como resistência premente, corolário de um movimento politizado, na determinação pró-ativa de pessoas sufocadas pelo abuso?  Na época, o estopim ocorreu com a sobretaxação imperial em artigos campesinos, nestas plagas.  E hoje, o que se dizer sobre a carga tributária escorchante e sobre a farra nauseabunda de Brasília? Com que legitimidade poderemos ainda cantar, em alto e bom som, “(...) sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra” ?!
          Perdoem-me pelo dissabor, porém a coisa toda só tende a piorar...  Pois quando analiso a conduta geral, naquele que deveria ser o principal feriado do calendário cristão, verifico que a mercancia enxotou o aniversariante de sua própria festa. Decorre, assim, o desabafo sucinto desse pleito. Quando um brasileiro solitariamente - pelo menos então - exerce seu direito de contextualizar os feriados. No Dia da Coerência. (Sua posição numérica, no calendário anual, é o que menos importa.)
          Um feriado precisa existir como memorial vivo, daquilo que deve ser preservado em todos os dias, por todos aqueles que o celebram.


Enquanto isso...
Patota, assista ao documentário NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR (serviu de base para o TROPA DE ELITE).  Detalhe: a reportagem data de uns dez anos atrás, ou seja, hoje em dia o terror é bem maior, parceiro:  http://youtu.be/EAMIhC0klRo

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Haikai moicano


Às vezes, momentos perdidos como o de agora.
Perco-me extasiado nas sutilezas, saraus inexistentes, transe onírico.
Céu anil, campo ermo. Intuição que expande.
Maravilho-me com tudo, algo subentendido, imerso na natureza, no silêncio.
O vento afaga. O fim não assusta. É recomeço!

 - "Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Provérbios 4:18)


                          NÃO VOS ENGANEIS: NEM TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA

      ( Da série “política e religião se discutem, sim senhor”...)
      Antes de 2012 se despedir, completará 100 anos a primeira publicação de “As Formas Elementares da Vida Religiosa”, obra-referência do sociólogo francês Émile Durkheim. Na ocasião, causa espécie sua propalada assertiva de que “todas as religiões são verdadeiras.”  A despeito das celeumas provenientes dessa expressão (científica?), coube-me o encontro parcial. Ou a divergência fundamental, decida o leitor (em situação similar ao jogo de palavras, contido na semântica de “quem fala uma meia-verdade diz uma mentira inteira”).
    Afinal, mesmo por um pragmatismo dialético, podemos assumir como válidas todas as religiões, quando tão somente as consideramos uma manifestação social, de natureza interativa na evolução de diversas culturas. Contudo, se as cotejarmos em seus efeitos, facilmente verificamos que existem aquelas de resultados benéficos e outras prejudiciais (por amplos fatores, v.g., como o da saúde).
    Avante, a inconsistência da pluralidade sobeja, realmente, quando esse panteísmo - tão em voga nos ares sofistas do politicamente correto - esbarra na possibilidade do cristianismo.  A qual pode ser explicada, em parcimônia de linhas, nesta sucessão de eventos: uma força estranha ao conhecimento humano – Deus - gerou o universo. A humanidade tentou, por séculos, elaborar sistemas – religiões - para compreensão e/ou conectividade com essa matriz sobrenatural. Vez em quando, houve indícios de sua intervenção explícita ou até mesmo de sua apresentação (teofania e epifania, respectivamente). Entrementes, como ficariam as religiões no mundo se Deus tivesse se revelado, inequivocamente, para as suas criaturas? Se fosse descida uma escada, entre céus e a Terra? Pois essa é a anunciação cristã. Somente no cristianismo, historicamente, ocorreu um protagonista a se intitular Deus entre os homens (“Emanuel”), corroborado pelos testemunhos de multidões, inclusive judeus e romanos (culturas de difícil persuasão, nesse sentido).  Fato que se demonstrou comprovável até mesmo pela posteridade,  por acordância e experimentação (fé) de milhares de pessoas.
    Isso torna Jesus Cristo um evento absoluto e dicotômico, porquanto ou trata-se de um louco bem intencionado (ainda assim, um mentiroso) ou, de fato, Deus se revelou para a sua criação, unívoca e peremptoriamente. Portanto, se sua mensagem - explícita e universal - é verdadeira, não há como conciliar o paganismo de falsas deidades e devoções de conveniência.  MATEUS 7: 14

Da série "Publica aí que eu assino embaixo!"...

POUCOS AMIGOS


J.R. Guzzo

Numa dessas anotações que certamente contribuíram para lhe dar a reputação de grande fotógrafo da existência humana em sua época, Stendhal observou que a Igreja Católica aprendeu bem depressa que o seu pior inimigo eram os livros. Não os reis, as guerras religiosas ou a competição com outras religiões; isso tudo podia atrapalhar, claro, mas o que realmente criava problemas sérios eram os livros. Neles as pessoas ficavam sabendo de coisas que não sabiam, porque os padres não lhes contavam, e descobriam que podiam pensar por conta própria, em vez de aceitar que os padres pensassem por elas. Abria-se para os indivíduos, nesse mesmo movimento, a possibilidade de discordar. Para quem manda, não pode haver coisa pior – como ficou comprovado no caso da Igreja, que foi perdendo sua força material sobre países e povos, e no caso de rodas as ditaduras, de ontem, de hoje e de amanhã. Stendhal estava falando, na sua França de 200 anos atrás, de algo que viria a evoluir, crescer e acabar recebendo o nome de “opinião pública”. Os livros, ou, mais exatamente, a possibilidade de reproduzir de forma ilimitada palavras e ideias foram a sua pedra fundamental.

A leitura de livros, ou de qualquer coisa escrita, não parece estar num bom momento no Brasil de hoje; a opinião pública também não. Vive-se uma época em que a cada três meses é anunciada alguma “revolução” nisso ou naquilo, depois da qual o mundo nunca mais “será o mesmo” de antes. Quando tais portentos envolvem áreas ligadas à comunicação, sempre se insiste, de um jeito ou de outro, em prever que a leitura está a caminho de se transformar num hábito do passado. Cada vez mais, no dia a dia, sua valorização posta de lado – ou “relativizada”, como se diz. É comum, por exemplo, ouvir declarações lamentando que árvores sejam cortadas para produzir papel destinado à impressão; a única forma aceitável de leitura, para muita gente boa, deveria ser a tela de algum artefato digital. Empresas de grande renome não consideram uma virtude, no julgamento de seus executivos, o gosto pela leitura, a não ser que se trate de publicações profissionais. Não passa pela cabeça de nenhum recrutador perguntar a um candidato a emprego o que ele está lendo, por mais alto e bem pago que seja o posto a ser preenchido. É claramente desaconselhável ao funcionário, no ambiente de trabalho, deixar sobre a mesa qualquer livro que não seja diretamente ligado à sua atividade. Arrisca-se, caso contrário, a ser interrogado pelo chefe: “Por que você está lendo isso?”. Nas novelas de televisão, que continuam sendo o principal entretenimento para milhões de brasileiros, jamais se vê um personagem lendo um livro. Discute-se com muito calor, no momento, quantos beijos entre pessoas do mesmo sexo podem ser dados num capítulo, ou se um casal gay pode aparecer tomando o café da manhã na cama; prega-se, ao longo da trama, todo tipo de causa, da defesa das geleiras à política de cotas raciais, da preservação dos mangues à condenação da gordura trans. O que não aparece, de jeito nenhum, é alguém lendo alguma coisa. O ato de ler também está banido da publicidade de consumo; há uma clara preferência, aí, por algo que se parece muito com um culto intensivo à boçalidade. Da atitude geral do governo diante da leitura, então, é melhor nem falar; registre-se, em todo caso, sua profunda satisfação em anunciar, sempre que é incomodado pelo noticiário de escândalos publicado na imprensa, que “o brasileiro não lê nada”.

Naturalmente, ninguém se coloca hoje como inimigo dos livros; mas é certo que muitos se beneficiam com o fato de que a leitura, nestes dias, tem poucos amigos na praça. Quanto menos se lê, menos ideias são mantidas em circulação. Quanto menos ideias, menos espaço sobra para a discordância, a procura de alternativas e a fiscalização dos atos do governo. O resultado, na prática, é uma indiferença generalizada em relação ao comportamento de quem governa. Não há muito a fazer quanto a isso. A opinião pública não tem nenhuma obrigação de pensar assim ou assado, muito menos de estar “certa” – ela é o que é, e parece perfeitamente inútil esperar que sinta o que não sente, ou que queira o que não quer. Essas realidades, entretanto, têm o seu preço. No caso do Brasil atual, o desinteresse pelo que acontece na vida pública é pago com a multiplicação, em ritmo cada vez mais rápido, de todo tipo de parasitas dedicados a prosperar com o dinheiro do Erário. É certo que eles não irão embora por sua livre e espontânea vontade.


”Parada gay, cabra e espinafre”,  por J.R. Guzzo.

Já deveria ter ficado para trás no Brasil a época em que ser homossexual era um problema. Não é mais o problema que era. com certeza, mas a verdade é que todo o esforço feito há anos para reduzir o homossexualismo a sua verdadeira natureza – uma questão estritamente pessoal – não vem tendo o sucesso esperado. Na vida política, e só para ficar num caso recente, a rejeição ao homossexualismo pela maioria do eleitorado continua sendo considerada um valor decisivo nas campanhas eleitorais. Ainda agora, na eleição municipal de São Paulo, houve muito ruído em torno do infeliz “kit gay” que o Ministério da Educação inventou e logo desinventou, tempos atrás, para sugerir aos estudantes que a atração afetiva por pessoas do mesmo sexo é a coisa mais natural do mundo. Não deu certo, no caso, porque o ex-ministro Fernando Haddad, o homem associado ao “kit”, acabou ganhando – assim como não tinha dado certo na eleição * anterior, quando a candidata Marta Suplicy (curiosamente, uma das campeãs da “causa gay” no país) fez insinuações agressivas quanto à masculinidade do seu adversário Gilberto Kassab e foi derrotada por ele. Mas aí é que está: apesar de sua aparente ineficácia como caça-votos, dizer que alguém é gay, ou apenas pró-gay. ainda é uma “acusação”. Pode equivaler a um insulto grave – e provocar uma denúncia por injúria, crime previsto no artigo 140 do Código Penal Brasileiro. Nos cultos religiosos, o homossexualismo continua sendo denunciado como infração gravíssima. Para a maioria das famílias brasileiras, ter filhos ou filhas gay é um desastre – não do tamanho que já foi, mas um drama do mesmo jeito.

Por que o empenho para eliminar a antipatia social em torno do homossexualismo rateia tanto assim? O mais provável é que esteja sendo aplicada aqui a Lei das Consequências Indesejadas, segundo a qual ações feitas em busca de um determinado objetivo podem produzir resultados que ninguém queria obter, nem imaginava que pudessem ser obtidos. É a velha história do Projeto Apollo. Foi feito para levar o homem à Lua; acabou levando à descoberta da frigideira Tefal. A Lei das Consequências Indesejadas pode ser do bem ou do mal. É do bem quando os tais resultados que ninguém esperava são coisas boas. como aconteceu no Projeto Apollo: o objetivo de colocar o homem na Lua foi alcançado – e ainda rendeu uma bela frigideira, além de conduzir a um monte de outras invenções provavelmente mais úteis que a própria viagem até lá. É do mal quando os efeitos não previstos são o contrário daquilo que se pretendia obter. No caso das atuais cruzadas em favor do estilo de vida gay, parece estar acontecendo mais o mal do que o bem. Em vez de gerar a paz, todo esse movimento ajuda a manter viva a animosidade: divide, quando deveria unir. O kit gay, por exemplo, pretendia ser um convite à harmonia – mas acabou ficando com toda a cara de ser um incentivo ao homossexualismo, e só gerou reprovação. O fato é que, de tanto insistirem que os homossexuais devem ser tratados como uma categoria diferente de cidadãos, merecedora de mais e mais direitos, ou como uma espécie ameaçada, a ser protegida por uma coleção cada vez maior de leis. os patronos da causa gay tropeçam frequentemente na lógica- e se afastam, com isso. do seu objetivo central.

O primeiro problema sério quando se fala em “comunidade gay”é que a “comunidade gay” não existe – e também não existem, em consequência, o “movimento gay” ou suas “lideranças”. Como o restante da humanidade, os homossexuais, antes de qualquer outra coisa, são indivíduos. Têm opiniões, valores e personalidades diferentes. Adotam posições opostas em política, religião ou questões éticas. Votam em candidatos que se opõem. Podem ser a favor ou contra a pena de morte, as pesquisas com células-tronco ou a legalização do suicídio assistido. Aprovam ou desaprovam greves, o voto obrigatório ou o novo Código Florestal – e por aí se vai. Então por que, sendo tão distintos entre si próprios, deveriam ser tratados como um bloco só? Na verdade, a única coisa que têm em comum são suas preferências sexuais – mas isso não é suficiente para transformá-los num conjunto isolado na sociedade, da mesma forma como não vem ao caso falar em “comunidade heterossexual” para agrupar os indivíduos que preferem se unir a pessoas do sexo oposto. A tendência a olharem para si mesmos como uma classe à parte, na verdade, vai na direção exatamente contrária à sua principal aspiração – a de serem cidadãos idênticos a todos os demais.

Outra tentativa de considerar os gays como um grupo de pessoas especiais é a postura de seus porta-vozes quanto ao problema da violência. Imaginam-se mais vitimados pelo crime do que o resto da população; já se ouviu falar em “holocausto” para descrever a sua situação. Pelos últimos números disponíveis, entre 250 e 300 homossexuais foram assassinados em 2010 no Brasil. Mas. num país onde se cometem 50 000 homicídios por ano, parece claro que o problema não é a violência contra os gays; é a violência contra todos. Os homossexuais são vítimas de arrastões em prédios de apartamentos, sofrem sequestros-relâmpago, são assaltados nas ruas e podem ser monos com um tiro na cabeça se fizerem o gesto errado na hora do assalto – exatamente como ocorre a cada dia com os heterossexuais; o drama real, para todos, está no fato de viverem no Brasil. E as agressões gratuitas praticadas contra gays? Não há o menor sinal de que a imensa maioria da população aprove, e muito menos cometa, esses crimes; são fruto exclusivo da ação de delinquentes, não da sociedade brasileira.

Não há proveito algum para os homossexuais, igualmente, na facilidade cada vez maior com que se utiliza a palavra “homofobia”; em vez de significar apenas a raiva maligna diante do homossexualismo, como deveria, passou a designar com frequência tudo o que não agrada a entidades ou militantes da “causa gay”. Ainda no mês de junho, na última Parada Gay de São Paulo, os organizadores disseram que “4 milhões” de pessoas tinham participado da marcha – já o instituto de pesquisas Datafolha, utilizando técnicas específicas para esse tipo de medição, apurou que o comparecimento real foi de 270000 manifestantes, e que apenas 65000 fizeram o percurso do começo ao fim. A Folha de S.Paulo, que publicou a informação, foi chamada de “homofóbica”. Alegou-se que o número verdadeiro não poderia ter sido divulgado, para não “estimular o preconceito”- mas com isso só se estimula a mentira. Qualquer artigo na imprensa que critique o homossexualismo é considerado “homofóbico”; insiste-se que sua publicação não deve ser protegida pela liberdade de expressão, pois “pregar o ódio é crime”. Mas se alguém diz que não gosta de gays, ou algo parecido, não está praticando crime algum – a lei. afinal, não obriga nenhum cidadão a gostar de homossexuais, ou de espinafre, ou de seja lá o que for. Na verdade, não obriga ninguém a gostar de ninguém; apenas exige que todos respeitem os direitos de todos.

Há mais prejuízo que lucro, também, nas campanhas contra preconceitos imaginários e por direitos duvidosos. Homossexuais se consideram discriminados, por exemplo, por não poder doar sangue. Mas a doação de sangue não é um direito ilimitado – também são proibidas de doar pessoas com mais de 65 anos ou que tenham uma história clínica de diabetes, hepatite ou cardiopatias. O mesmo acontece em relação ao casamento, um direito que tem limites muito claros. O primeiro deles é que o casamento, por lei, é a união entre um homem e uma mulher; não pode ser outra coisa. Pessoas do mesmo sexo podem viver livremente como casais, pelo tempo e nas condições que quiserem. Podem apresentar-se na sociedade como casados, celebrar bodas em público e manter uma vida matrimonial. Mas a sua ligação não é um casamento – não gera filhos, nem uma família, nem laços de parentesco. Há outros limites, bem óbvios. Um homem também não pode se casar com uma cabra, por exemplo; pode até ter uma relação estável com ela, mas não pode se casar. Não pode se casar com a própria mãe, ou com uma irmã, filha, ou neta, e vice-versa. Não poder se casar com uma menor de 16 anos sem autorização dos pais. e se fizer sexo com uma menor de 14 anos estará cometendo um crime. Ninguém, nem os gays, acha que qualquer proibição dessas é um preconceito. Que discriminação haveria contra eles, então, se o casamento tem restrições para todos? Argumenta-se que o casamento gay serviria para garantir direitos de herança – mas não parece claro como poderiam ser criadas garantias que já existem. Homossexuais podem perfeitamente doar em testamento 50% dos seus bens a quem quiserem. Tem de respeitar a “legítima”", que assegura a outra metade aos herdeiros naturais – mas essa obrigação é exatamente a mesma para qualquer cidadão brasileiro. Se não tiverem herdeiros protegidos pela “legítima”, poderão doar livremente 100% de seu patrimônio – ao parceiro, à Santa Casa de Misericórdia ou à Igreja do Evangelho Quadrangular. E daí?

A mais nociva de todas essas exigências, porém, é o esforço para transformar a “homofobia” em crime, conforme se discute atualmente no Congresso. Não há um único delito contra homossexuais que já não seja punido pela legislação penal existente hoje no Brasil. Como a invenção de um novo crime poderia aumentar a segurança dos gays, num país onde 90% dos homicídios nem sequer chegam a ser julgados? A “criminalização da homofobia”é uma postura primitiva do ponto de vista jurídico, aleijada na lógica e impossível de ser executada na prática. Um crime, antes de mais nada. tem de ser “tipificado” – ou seja, tem de ser descrito de forma absolutamente clara. Não existe “mais ou menos” no direito penal; ou se diz precisamente o que é um crime, ou não há crime. O artigo 121 do Código Penal, para citar um caso clássico, diz o que é um homicídio: “Matar alguém”. Como seria possível fazer algo parecido com a homofobia? Os principais defensores da “criminalização” já admitiram, por sinal, que pregar contra o homossexualismo nas igrejas não seria crime, para não baterem de frente com o princípio da liberdade religiosa. Dizem, apenas, que o delito estaria na promoção do “ódio”. Mas o que seria essa “”promoção”? E como descrever em lei, claramente, um sentimento como o ódio?

Os gays já percorreram um imenso caminho para se libertar da selvageria com que foram tratados durante séculos e obter, enfim, os mesmos direitos dos demais cidadãos. Na iluminadíssima Inglaterra de 1895, o escritor Oscar Wilde purgou dois anos de trabalhos forçados por ser homossexual; sua vida e sua carreira foram destruídas. Na França de 1963, o cantor e compositor Charles Trenet foi condenado a um ano de prisão, pelo mesmo motivo. Nada lhe valeu ser um dos maiores nomes da música popular francesa, autor de mais de 1 000 canções, muitas delas obras imortais como Douce France – uma espécie de segundo hino nacional de seu país. Wilde, Trenet e tantos outros foram homens de sorte – antes, na Europa do Renascimento, da cultura e da civilização, homossexuais iam direto para as fogueiras da Santa Madre Igreja. Essas barbaridades não foram eliminadas com paradas gay ou projetos de lei contra a homofobia, e sim pelo avanço natural das sociedades no caminho da liberdade. É por conta desse progresso que os homossexuais não precisam mais levar uma vida de terror, escondendo sua identidade para conseguir trabalho, prover o seu sustento e escapar às formas mais brutais de chantagem, discriminação e agressão. É por isso que se tomou possível aos gays, no Brasil e no mundo de hoje, realizar o que para muitos é a maior e mais legítima ambição: a de serem julgados por seus méritos individuais, seja qual for a atividade que exerçam, e não por suas opções em matéria de sexo.

Perder o essencial de vista, e iludir-se com o secundário, raramente é uma boa ideia.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Lágrimas ao Rei

A PAZ QUE SOBEJA

Oh amor irresistível
Queimas meu peito
Inundas minhas vistas
Quão incompreensível e elevada
É tua mercê
Oh meu Senhor e Rei
Salvador augusto, excelso e Santíssimo
Como poderia a larva que sou
Não se constranger com tua vastidão
O poder de tua justiça e misericórdia avassaladoras
Eu que sou menos que a sombra de um cadáver
Diante de mil estrelas reverentes
Àquele que a tudo moldou
Como poderia esse pobre estúpido
não se abalar com a destra infinita
Da majestade que o mundo jamais entenderá
Oh soberano amor
                                               - Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz.            (Efésios 5:8)




quinta-feira, 26 de julho de 2012

Este velho campo de batalha chamado ALMA

O Leviatã


Quando vier o monstro (ah, e ele virá, fique certo disso, jovem)

Sua sombra gigantesca te assombrará

Seu hálito será ventania esmagadora

Anunciando o fim do teu aprendizado

Enfim curvarás teu corpo cansado

No apoio da espada cravada em vasto prélio

Clamarás em lágrimas ao teu Deus

Pois os dias serão mais escuros e frios

E a memória dos teus feitos não será motivo de orgulho

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Digressão Febril em Dias Cinzentos

     Este ensaio aporético limita-se a um comedido desabafo, pareceu-me. Ou menos ainda, como exercício inaudito de parrésia, palavra grega que abrange o conceito de uma verdade inconveniente, sinceridade ousada e constrangedora. Logo, não se trata de externar um pensamento ou crítica, tão somente, mas fazê-lo com risco pessoal, prevendo-se o desagrado da pessoa advertida.

     Para o pensador Foucault, a parrésia é uma forma de admoestação tanto para outrem quanto a si mesmo, todavia quando nos encontramos em uma posição de inferioridade em relação ao interlocutor. Vem “de baixo” e se dirige a quem está “em cima”; quando um cidadão desconfortavelmente critica a maioria, quando um aluno questiona - com sinceridade - a conduta do seu professor, então se verifica a parrésia. Plutarco, no século I, escreveu um livro intitulado “Como distinguir um adulador de um amigo”. O verdadeiro amigo é parrésico, fala a verdade, ainda que incomode ou doa. No entanto, nossa vaidade tende a tornar os nossos ouvidos moucos... Vanitas vanitatum.

     Por conseguinte, semelhante a quem registra suas impressões em um diário, hoje pondero sobre o desafio pessoal de conviver com as limitações coletivas, mormente no âmbito eclesiástico. Algo que, em princípio (e no meu íntimo), pode conter certo paradoxo, porquanto como poderia um enfermo buscar tratamento sem se isolar de outros enfermos? Certo, nosso médico é Jesus Cristo, que expressou a ordenança para amarmos uns aos outros. Para meu infortúnio, vislumbro - nesta ocasião em particular – aquela sensação embaraçosa de um hospital com quartos abarrotados, cheiro nauseabundo de diversos estropiados.

     Talvez essa aparente falta de assepsia esteja mais flagrante em mim mesmo, por minha ínfima paciência para com as falhas e bizarrices alheias. Minha hipocrisia, ou intolerância permeada pela estultícia? Saberei no futuro.

     Por ora eu reconheço, desconcertado, que menor afinidade (leia-se comunhão) tenho hoje com as igrejas às quais congrego ou visito. Percebo, pois, algumas condutas de difícil absorção (provavelmente, devido à minha própria imaturidade espiritual). De qualquer sorte, denuncio certa angústia, quando tento relevar cenas de ociosidade, gula, proselitismo, etc., entre irmãos na fé (oscilantes em meu coração, lamento em reconhecer). Para agravar, de minha parte prepondera uma resistência a homilias recentes, consideradas abstratas ou generalizadas em sua apologia. Há que se construir releituras! Pois a Palavra não é estanque código moral-religioso, porém é viva e interativa. Necessário, pois, confrontá-la com a realidade empírica da comunidade. Renovação! Renovação!  Ecce nova facio omnia.

  ( Enfim, reconheço que lideranças e membros religiosos não necessitam ser modelos de perfeição cristã, entrementes, deveriam ser prolíferos em exemplos edificantes, de maneira a orientar e estimular aos demais, pela graça e produtividade - como inspiração terrena aos seus próximos! E os seus frutos,  SUAS OBRAS PELO ESPÍRITO deveriam ser perceptíveis na comunidade.  Com efeito, se encontro dificuldades para um referencial humano, talvez o problema esteja comigo mesmo -pelo nível de exigência e falta de compreensão.  Com humildade e franqueza, peço ao Senhor Jesus Cristo para que desfaça esse sentimento desagradável em meu peito. )
 ( Ainda guardo a gratidão, pelas diversas vezes em que aprendi com pessoas tementes a Deus. Pelas ocasiões em que fui auxiliado e que compartilhei gestos de amizade com alguém que, como eu, é humanamente falível. ... Por que, então, hoje me sinto assim avesso e decepcionado? ) 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A MORTE DO PAPAI NOEL


            Sou de uma geração cujo senso comum abrigava institutos como o do tratamento de “senhor” e “senhora” a pais e professores, autoridades máximas no cotidiano juvenil.  Hodiernamente, envido certa resignação a um sentimento de desconforto individual, na esteira da efemeridade de paradigmas sociais.
            Sem adentrar em uma nostalgia axiológica (pelo menos dessa amolação eu vos alivio), intuo certo extravio,  alguma coisa que foi deixada no caminho, além da própria inocência.  Quando cada vez mais precocemente trocamos “papai” por “pai”, “pai” por “coroa”, “coroa” por “velho”.  Atente minha sonolenta plateia (maltrapilhos e demais desocupados, ralé tão preciosa a este lunático) que não estou meramente me insurgindo contra expressões populares.  Minha semântica - algo quixotesca, para se dizer o mínimo - tenta antes dissecar meu absoluto despreparo, como forasteiro de um mundo fugaz, bizarro e contraditório. 
            Talvez seja a breve resenha uma indagação campesina, crônica diletante fadada ao oblívio alheio; não obstante, farpa que soçobra as rugas deste matuto esgualepado. Afinal, será uma excentricidade considerarmos como esqualidez moral a sanha contemporânea (neorrenascentista?), pela irreverência generalizada a todo conceito de ordem e sujeição? Enfim, parece-me evidente a absorção - “viral” - de um mascarado anarquismo, infiltrado na pragmática das ruas.
            Parece-me razoável supor que a patota da mídia, via de regra, parasitária de um consumismo autofágico, condiciona as massas de menor esclarecimento por abordagens rasas (contudo, estilizadamente sugestivas ou convidativas), que por fito reptício demonstram o vitupério aos limites prístinos.  Quando a embalagem é assim caprichada, bebe-se o veneno pelo vinho. Como derivado, entre outros tantos aspectos perniciosos, s.m.j., avança o descuido na observância da doutrina cristã.
            Se formalmente o cristianismo ainda é o credo de maior número de adeptos, à realidade empírica dos nossos dias, encontramos grande dificuldade para observar praticantes fidedignos. Para algumas vozes autossuficientes, pois, Deus está se tornando o “amigo imaginário dos adultos”, "efeito placebo motivacional", à guisa relativista-libertário-tecnológica dos ventos do politicamente correto.  De outra banda, na visão do ocidental pré-apocalíptico (algum incauto ainda não percebeu que a modernidade está indo às cucuias?), o vetusto Senhor dos Exércitos foi promovido – em um upgrade de estarrecer qualquer capiau do meu vilarejo – a um Jesus camarada, bonachão transbíblico, Deus do amor (homossexual, inclusive), que tudo perdoa, logo, tudo permite...
            (...)
            Sinais dos tempos.  Achais que exagero? (Sim, sou um paquiderme da época em que existiam verbos conjugados na segunda pessoa do plural.)  Quando guri, os padres tinham certeza de que todos nós iríamos para o inferno (merecidamente, a bem da verdade). Há alguns meses, na minha primeira semana de acadêmico na faculdade de Teologia, vai lá o caboclo me ensinar que nem sequer existe um inferno. Legal. Cool, dude. Cristo veio a Terra a passeio. Morreu por bobeira. (Salvar a quem, se não existe o andar de baixo?). Eita! Vida conturbada a do crente evangélico. A barafunda eclesiástica, dos discípulos “casuais” de Jesus, é de deixar o sacristão mais perdido que sapo em cancha de bocha, cueca em lua de mel.
            Eis a parada desconcertante entre a fé, fulcrada na Palavra viva do Criador (em que pese a celeuma sobre autenticidade e inerrância históricas), e a disseminada crença individual-panteísta: de Cristo somos seguidores livres, ou somos seguidores, livres de Cristo?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Contra a Farsa Democrática

     Para registrar os filhos, meus conterrâneos precisam acatar as condições estabelecidas pelo Estado. O mesmo acontece quando pretendem formalizar casamentos, constituir empresas, conduzir automóveis ou apenas trabalhar, legalmente.
     Observo, portanto, que sobre direitos fundamentais – alguns deles de ordem natural, inclusive – uma organização “externa” compele seres livres, no curso da abdicação parcial de suas liberdades, a se submeterem não a um consenso, mas a preceitos para padronizar condutas em diferentes culturas (regiões díspares de uma imensa federação).
     Entrementes, quando o assunto é o direito ao voto, não se projeta o múnus individual, o dever da responsabilidade social em cada decisão (que jamais será  isolada). Os critérios são minimalistas, claudicantes em sua singeleza. Por quê? Qual azo crônico para que, na responsabilidade de se emitir um instrumento de procuração (é o que cada voto significa), para que outrem trate de interesses coletivos, não se aplique semelhante rigor ao reconhecimento da capacitação?
     Em linhas gerais, recepciono o sardônico filósofo contemporâneo*, ao lembrar de Platão, corroborando que uns poucos são melhores do que a maioria dos homens. E mais: “a sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas.”  
     Ainda segundo o blasonador, algo mais evidente, de longa data neste país, é a tentativa de tachar qualquer um que critique a democracia como antidemocrático. Somado a isso, reeditamos a observação de Tocqueville, quando as duas formas mais claras de tirania estão no poder da maioria e do dinheiro.  Necessário, pois, combater a tendência de deturpar a democracia como um regime da “vontade popular”.  Ora, acenando-se algumas medidas assistencialistas (esmolas populistas), as massas de menor discernimento político acomodam-se em sua ignorância. Confiar nesse contingente de manobras, na escolha das autoridades governamentais, parece-me ato libertário: poeticamente irresponsável e periclitante, para se dizer o mínimo.
     Em seu ensaio provocativo, Pondé não suaviza palavras: a afirmação de que todos são iguais (quando a igualdade deveria existir apenas perante os tribunais) leva as pessoas mais idiotas a assumir que são capazes de opinar sobre tudo. O homem democrático, quando pretende saber algo, consulta o colega ao lado, e o que a maioria disser, ele assume como verdade.  Daí que, no lugar do conhecimento, a democracia criou a solenidade da opinião pública.
    Veja o fenômeno mundial da internet.  Algo que existe, precipuamente, graças à diretriz-mor da livre circulação de ideias e informações. Mera sugestão de aprimorar -ou solapar- sua fórmula, por uma restrição –ou filtro- na produção e acesso de dados parece algo extremamente antidemocrático. Afinal, a liberdade de conhecimento deve ser ampla, certo? Contudo... Nenhum sistema perdura sem um controle de excessos.  Nesse contexto, verificam-se a pornografia, pedofilia, redes criminosas, golpes, informações equivocadas, etc.
     No hodierno sistema eleitoral (para mim, um esquema eleitoral), por que as crianças não votam, se elas são brasileiras tanto quanto os adultos? Pela teleologia dos legisladores, porque é necessário ter uma capacidade mínima, a conduzir com razoável segurança o eleitor. Assim, na prática, qual é essa condição mínima, a postular a qualidade de eleitor? Segundo as convenções vigentes, basta o caboclo ter dezesseis anos. Não importa quão desinformado esteja.
     Há alguns anos, conheci uma senhora que votou no Collor porque “ele era bonito”. Arriégua! Eis um excelente motivo para se votar em alguém... Daí o questionamento lídimo: será que todo brasileiro poderá ser, uma vez a cada quatro anos, um médico em uma sala de cirurgia? Será que, em nome de uma nobre ideia de democracia (calcada em uma isonomia absoluta, pelo menos na ocasião do sufrágio), a cada quatro anos, qualquer brasileiro a partir dos dezesseis anos poderá ser um motorista de ônibus, um piloto de avião comercial? Pois ao fazer suas escolhas, pelo voto, todo brasileiro estará interferindo com a vida de diversos outros. Não somente o seu destino, também o de multidões está em jogo.
     Portanto, minha proposta – um tanto óbvia (e, em um primeiro momento, antipática, por seus ares elitistas) – é de uma preparação mais consistente, no processo de habilitação do voto.  Assim como todo condutor de veículo automotivo, em tese, deve passar por uma formação gradual, os eleitores devem ser selecionados (a exemplo do que a OAB faz com os bacharéis em Direito, para que possam exercer a advocacia).  Com o auxílio de universidades e organizações não governamentais, haveria cursos e testes teóricos, para que a nação possa confiar que os seus eleitores sabem discernir, pelo menos, conceitos basilares como partidos de direita, ditadura, finalidade do Congresso, demagogia, etc. Com efeito, o exercício do voto deixaria de ser compulsório, para atingir o patamar histórico de ser uma conquista da maturidade cidadã.
* Alusão a Luiz Felipe Pondé (“Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”).

SENTENÇA (às 4h15min de uma quinta-feira chuvosa)
" NÃO CONSIGO REVERENCIAR UM CARGO EM QUE
QUALQUER IMBECIL COM CONHECIMENTOS PODE OCUPÁ-LO. "

                                       Cleberton O. Garmatz (Xexéu)

                                                                                                                                                     

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Hodie

- Ensaio um processo investigativo, geral e de ponderação não exauriente.  Até então, compõe-se de 4 etapas: informações; possibilidades; probabilidades; fator extrínsico (aguardar pelo inesperado, algo que escapa, além da produção realizada até o momento; novas conjeturas).

- Apreciei a máxima docente (Pe. Fábio Junges): NÃO HÁ SANTO SEM PASSADO, NEM PECADOR SEM FUTURO.

-Melodia de hoje: VA PENSIERO

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Teofania (a redescoberta do fogo)

Então está decidido: vossas digressões acadêmicas serão minha Xantipa!

Só sei que tudo sei. (Exceto por aquilo que ignoro.)

Eu previamente desconheço muitas coisas. Conquanto saiba o que fazer com cada uma delas.

Na fauna das relações humanas, "nunca" e "sempre" não existem.

Eu, velho precoce... Quando me tornei ranzinza? Na minha infância e na adolescência, a moral em minha localidade era pautada pela reprovação a estereótipos vulgares, "bagaceiras" (do bagaço, algo sem polpa, chulo e vão). Poucos anos se passaram, e quase tudo que era moralmente condenado se tornou crista da onda, no modismo das novelas e outras mídias.  Definitivamente, não compreendo este mundo... Mudei eu ou mudou o Natal, Seu Drummond?

terça-feira, 10 de abril de 2012

A Revanche do Tio Ludovico

Tarde mexicana. Apenas os cabrones alcançam o significado do conceito. Quanto a você, turista incauto, considere um céu onírico em seu brilho. Ao redor, pouco movimento, quase tudo lânguido, implícito e oscilante do zen-non sense. Deveria estar na sagrada siesta, sob a penumbra elegante do  sombreiro empoirado. Traseiro satisfatoriamente colado à velha poltrona, quando meu semblante pachorrento de labrador disfarça aquele capcioso –ainda que autêntico- gênero blasé. Nada de novo sob o sol tão vívido de San Angel. Algumas moscas pretendem acariciar as cicratizes -ou fastio- em meu rosto. Estes olhos de gringo adormecem, sob a estética de um céu estranho e pacífico. A despeito de não relaxar integralmente; sempre haverá chances para um grupo de paraquedistas-opinadores modificar a paisagem. “A boca é o órgão excretor da cabeça.” Tento permanecer na cada vez mais fugaz catatonia, naquele estado de acolhedor mudismo, enquanto o ambiente trepida pelas altercações de propósito ignorado. Conseguiram. Arriégua, a verborragia enfim me perturba. Ah, Deus sabe a provocação que me assalta, por algumas doses maciças de piedosa tequila! Resisto brava e estupidamente, enquanto transformam minhas bolas em air-bags, enquanto os mugidos reverberam o panorama do Trololó Antigo do Banzé Ancestral... E tudo pareceria tão sábio e edificante, se nos permitíssemos a letargia coletiva, o silêncio sacro de uma sonolência artística – a eximir o testemunho involuntário de estéril barafunda axiológica. Boring to death !
                                                                         (by Emiliano Zapata)
"Quantos reinos nos ignoram!" - Blaise Pascal
"E saber que isso tudo vira nitrato de pó de bosta!"  Cleberton Cruise-credo

sexta-feira, 30 de março de 2012

ANTILEGOMENA - ou Rígido, o Pessimista

Primeiro Ato. Na Academia do Relativismo.
    (Ufa! Que alívio. Enfim resgatado -do confinamento de uma senda estreita- e higienizado da clausura. Que dia. Que dia!)
    Finalmente, outro orbe se descortina! Novel campo semântico, entronizado por heroico inclusivismo – ah, não mais me esforço em dirimir sofismas, eis que fulgura, esfuziante, efusiva chave hermenêutica, a me libertar do radicalismo de uma verdade!
    Obrigado, douto Pangloss, por me fazer enxergar meu patético sectarismo, em preceitos tão mesquinhos porquanto absolutos! (Algures consternado, o imbecil titubeia, porém reconhece - como condorniz abatida pela rapina - sua precipitação pelos encantos do livro preto.)
    “E levando cativo todo pensamento à obediência ao Filho do Homem...” Combati o bom combate, mantive eu a fé? Qual nada, ai de mim, se fui pedra de tropeço aos pequeninos. Melhor ter sido lançado ao fundo do mar! (Maldita a noite de minha concepção, desprezível o dia em que fui parido!)
    Ah, ardem-me nervos e ossos. Como fui parvo, insensível e cruel, ao rechaçar com veemência doutrinas outras, por considerá-las variação barata do advento A. Em meu empedernido coração, não as contava senão menos que palimpsestos canhestros. (Mas, ei, acorda, sua besta, quem se importa com a originalidade literária? Somos filhotes embevecidos do livre pensar, a congregação ruidosa de todas as vozes!)
    Doravante, não mais persiste a vereda única; tudo é Amor, vivemos a era de indiscriminada associação, celebremos pois a diversidade, quando até mesmo a verdade subsiste no equívoco! (Desterrado foi o Burlador. Haverá maior enleio que seguirmos o Rei sem o desconforto de suas leis?)
    Livres! Finalmente, livres! Bradem os acadêmicos nas praças, enquanto abraço meu irmão enfermo, beijando-lhe a face. (Exultantes, adoramos Alashiva, rufam tamborinos para que todos dancem a polca.)
  (...)
Diálogo da Taberna

Rígido – “Quando Amor se declarou, expressamente, aos habitantes terrenos?”
Pangloss – “O primeiro e mais pormenorizado relato, que a História nos comprova, encontra-se em A., o livro preto.”
Rígido: -“Meu bom teatrólogo, se as duas outras maiores doutrinas (sob aspecto do número de adeptos), logo após a Primeira, têm seus manuais ou baseados no livro preto (portanto, no manual da Primeira), ou simplesmente afastando por completo a revelação expressa do Amor... Como considerar, pela dialética da pertinência dos conjuntos, as frações maiores que a unidade?” (Em termos lógicos, se A= revelação normativa, B= A/3 e C=A/5, como pode ser A< B+C?)
-Pangloss – “Chega. Essa merda não serve pra nada.”

Final de encontro. O tolo é afastado. Aplausos.

("Crianças, aprendam: todo proselitista enseja virulento terrorista. Todo purista não passa de um vigarista.")

"E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." (Rm 12:2)

segunda-feira, 19 de março de 2012

ADMIRÁVEL MUNDO VELHO

Pense em um imenso grupo populacional da atualidade, composto por centenas de milhares de trabalhadores cooperativos, voltados para um natural bem-comum. Nesse tecido social não há desemprego, preconceitos, exploração, mendicância, estupros, poluição.

Os participantes acumulam seu PIB, gerado a partir do esforço conjunto e harmônico, para distribuição equânime, ao longo do ano. E a despeito de serem organizados sob um regime monárquico, as funções, cargos, jornada de trabalho, enfim, praticamente tudo é formatado sem grandes conflitos entre suas classes.

Um aspecto que talvez seja mais formidável, nessa sociedade não existem prisões. Os pais não são desrespeitados pelos filhos. Que por sua vez, são protegidos por seus progenitores e orientados pela coletividade. As leis não são escritas, e conquanto não se verifique uma religião oficial, torna-se evidente a beleza ordeira e elevada, discretamente compartilhada na singularidade de cada indivíduo.

Para assombro do hegemônico intelecto humano, essa sociedade existe.
São as formigas.

Cleberton Oliveira Garmatz
Acadêmico de Teologia, pelo IMT (1º Semestre de 2012)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Remissionem est major quam iniquitates.

Maior é o perdão que a transgressão. Como maior é o que está nos salvos do que aquilo que está no mundo... (...)Sou assaltado por Romanos 5:20. Sôfrego, quase a pedir o golpe de clemência, quando João 3:16 finaliza o meu esquartejamento moral.
Como pode existir amor assim insano? Uma galeria de arte sublime a ser queimada em preito ao abjeto. A Perfeição, excelsa e augusta, indescritível pureza, majestade e poder, a ser vituperada por algo somenos que um verme murino. Isso é um sacrilégio para com a inteligência deste mundo! Mutilaram-me qualquer resquício de lucidez!

Que amor avassalador e tresloucado é esse?! Respondam-me os sábios, cura-me a Ciência! (Pois esta alma não mais suporta tamanho absurdo, ora lancinante, a fustigar miserável consciência.)

Constranges-me em Vosso oceano de misericórdia, tão inconcebível e magnífico. Sem esforço algum, esmagas este ego sem fala, estupefato apenas com a noção claudicante da formosura de tua sombra. João Batista não estava à altura de desatar as sandálias do Mestre? Pois eu não sou digno de proferir o nome do menor dos seus discípulos!

Oh, Senhor Iahweh, como poderá esta pobre alma não ruir em vergonha, ante às toneladas de tua Santidade?
                                                                                                Doido doído por Cristo.

- Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?
Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir,
nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. (Romanos 8:35-39)

- Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; (1 Coríntios 13:1-8)

domingo, 11 de março de 2012

Servum spei - A Esperança na Desesperança

Os chicotes daquela época eram entremeados com ossos de animais e couro, de maneira a arrancar a pele no momento em que a pessoa era torturada.
As doze primeiras chicotadas provocavam dores terríveis. Nas doze chicotadas seguintes, a dor era comparada a chumbo derretido colocado em ferimento aberto. Nas outras doze, a pessoa perdia o controle do aparelho digestivo, e urinava devido à grande intensidade da dor.
A vítima de duas quarentenas-menos-uma (setenta e oito chicotadas) sofreria sequelas neurológicas para o restante da sua vida. Já quem tomasse acima de três quarentenas-menos-uma (117 chicotadas) morreria.
Mas Paulo tomou cinco quarentenas-menos-uma.
Cento e noventa e cinco chicotadas.

Um torrão árido, poeira sedimentada pela desolação. Não maior que 60 acres, com não mais de 480 pessoas. “Nazaré?! Poderá vir algo bom de Nazaré?”
Um gago tímido para falar pelo seu povo. Um rapazinho pastor de ovelhas a derrubar experiente gigante da guerra. Um jovem rejeitado por sua família, vendido como escravo, a governar uma Potência.

Se Deus se revelasse na plenitude de sua glória (shekinah), seria humanamente impossível deixar de reconhecê-la. Como um sol à retina, não se pode ignorar fulgurante verdade (emeth). Isso exclui a possibilidade de escolha prévia, e afasta as condições para um relacionamento de amor e confiança.
Se aceitarmos essa premissa, passo a considerar seu princípio em uma situação oposta. Quando tudo nos parece trevas e o padecimento sugere nenhuma outra vicissitude – senão sucumbir ou rogarmos em agonia, por alguma porta de saída. Quando tudo parece perdido, em sua noção ontológica, existirá fé? Ou o clamor e relativa confiança muito se aproximam de um desespero de causa ou ausência de perspectivas outras?
Talvez essa dúvida expresse, com justiça, outra mais propalada: “Para onde iremos nós, Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna.” Para onde mais poderá escapar a presa, quando uma só rota de fuga lhe resta? Nesse caso, houve “escolha”?
Aceito que a esperança encontra seu mimetismo, de forma sutil e fascinante, na surpresa do próprio antagonismo. Entrementes, estaria ela vinculada a uma dissociação lúcida, certa decisão volitiva – e não compulsória pela adversidade ou carência de alternativas. Enfim, um gesto de confiança não necessariamente para com o objeto imediato do anseio (um resultado improvável porém previsível, v.g., como um milagre), mas uma pacífica resignação da transcendência do objeto. (Deus está no controle. Eu não sei o que virá, mas sei quem é o meu guia. Ele tem interesse pelo meu real desenvolvimento. Ele sabe o que é melhor para mim. EU SEI EM QUEM TENHO CRIDO.)

                          Agradecimentos ao Pe. Fábio, do IMT, pelo teor interativo e multifacetado de suas aulas.


“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamento de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim , e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte.” Jeremias 29:11-14

sábado, 11 de fevereiro de 2012

UM POUCO DO GETSÊMANI

    Sou despertado de madrugada, quase no horário clássico das feitiçarias. O dia foi quente e desconfortável.
    Durante a tarde abrasiva, caminhei pelo centro da cidade. Passos pesados, algo titubeantes. O rosto suava, em um semblante carregado por uma lamentação árida. De um pequeno deserto. Desolador e cáustico.

    As ruas estavam bloqueadas para o trânsito, ocasião em que foram instaladas diversas arquibancadas metálicas. Ao passar próximo dessas fileiras, quase com a face retorcida (tomada pelo repúdio), reúno esforços para protestar contra aquela desgraça. Logo mais seria, oficialmente, iniciada a festa da carne. A cada quadra, sigo mentalmente clamando: “Jesus Cristo, envia teus anjos!” Uma batalha virulenta seria travada logo mais. Com pressa, atravesso o seu campo.

    Talvez você considere exageradas as – lamentavelmente, poucas – vozes que se insurgem, contra o carnaval de rua neste município. Afinal, trata-se apenas de um festejo popular, enriquecedor da cultura nacional. Ou nem tanto assim... Talvez você não esteja observando os reflexos da algazarra no mundo espiritual. Pois no momento em que as autoridades constituídas, publicamente, apreciam a nudez, sensualidade, travestis, pessoas embriagadas e entorpecidas... De sorte a oferecer, em uma cerimônia, a “chave da cidade” ao emérito “rei dos foliões”... No momento em que as famílias (pais, crianças e jovens) formam plateia a saudar a ausência de decoro... Em que a moralidade mínima parece ser revogada, coletivamente, por alguns dias no território desta imensa nação... O que nos difere de Sodoma e Gomorra?

    Fui acordado, de chofre, sem motivos aparentes. Abro as janelas e verifico uma escuridão incomum. A noite está mais negra, barulhenta e tomada pela fumaça. Ouço gritos. E os tamborins das escolas de samba, a poucas quadras. Para mim, soam como os repiques dos campos de batalha. Recordo que, na abertura oficial do desfile, foi queimada uma longa e estrondosa carga pirotécnica. A mim, explosivos de uma guerra de muitas, muitas baixas.

    A depravação tornou-se espetáculo. Nesse ritmo, talvez em alguns anos o próprio Código Penal pátrio estará suspenso, durante a semana libertina. Sei do que estou falando. Quando jovem, cheguei a trajar o uniforme abjeto do maligno. Nas sucursais do inferno – os reptícios blocos de carnaval - vi e participei de imundícias deploráveis, orgias repugnantes, minhas inomináveis cicatrizes mentais. Para infortúnio de várias gerações, poucas também foram as vozes a alertar a juventude contra aquele veneno sedutor.
Tento retomar o sono. Somente após o alento revigorante da Palavra, socorro bem presente, poderosa bênção de quem nos garante a vitória (remindo o tempo, pois os dias são maus).
 
- No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo.
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.   (Efésios 6:10-12)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ

“Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Cor. 6:20)

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Col. 3:17)
Eis que um feixe solar, algo tímido e sutil, adentrou nesta sala tépida, provocando-me o ardor da fé que não pode ser vencida por este mundo.
“Filho, estou contigo. Honra-me, pois, em tuas tarefas diárias.”  (Pequena luz a irradiar esperança e alento, a mim, homem de idade madura, imberbe em sua espiritualidade.)

Não importa se você é um solitário estudante, uma lavadora de panelas, alguém bem sucedido ou um desempregado em crise, uma pessoa envolta pela insegurança ou alguém tão assoberbado que mal tem tempo para lembrar de si mesmo... Em tudo persistem as atenções de quem nos acompanha! Pense grande, pense no pequeno! Observe as maravilhosas "pequenas grandiosidades" do Pai em sua vida... Descubra as digitais de Deus nos detalhes de cada dia.

Muitas vezes me senti desconfortável, pela rotina algente e estéril desta repartição pública. Outras vezes, não havia tempo nem para as necessidades fisiológicas. Oh, meu Senhor Jeová, perdoa este servo incipiente! Não açoites, Aba, minha ignorância que beira a ingratidão (ainda que eu mereça a justa reprimenda)! Desatento, deixo de servir-te com alegria,  El Olam, para me reter no trânsito estressante e no expediente desinteressante. E assim não percebo que Tu estás burilando meu caráter, a partir das pequenas coisas e pequenos desafios do meu cotidiano...
Oh, Perfeito Amor, eu reconheço que devo ser fiel no pouco, em minhas minúsculas atividades que para ti são importantes. Pois até mesmo nelas devo apresentar uma alma cativa à tua Palavra, com pensamentos que te agradem e cuja fala seja para edificar.
Seja no silêncio ou no lufa-lufa, teu Santo Espírito pede licença para trabalhar em mim, coroa da criação. Capacita-me, El Shaddai, para que eu abandone velhos hábitos, gemidos e murmurações. Mergulha meu ser na mansidão e brandura de Cristo! Dessa forma, serei testemunho vivo da tua glória e misericórdia; um milagre ambulante e diuturno que, em espírito e verdade, VIVE PARA TE ADORAR a todo instante!

"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." (Flp 4:8)



segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sofrer para Triunfar

   Então me surpreendo pelo detalhe, amiúde, ignorado ou preterido pela comunidade evangélica. Pois, de uma banda encontramos promessas maravilhosas dAquele que não pode se enganar ou retroagir. Não por acaso, há igrejas que enveradam radicalmente numa "teologia da prosperidade", arvoradas pela convicção de que todos os crentes fiéis serão prósperos, no campo e na cidade, na chegada e na saída, com a satisfação dos desejos do coração (uma vez que fomos criados para ser cabeça e não cauda; quando se buscam as coisas do Alto, as demais serão acrescentadas, etc.).

   Contudo, há o contraponto de que nem só de pão viverá o homem; não devemos andar ansiosos pelo que vestir e pelo que comer; a sabedoria -por sua vez, oriunda pelo princípio do respeito a Deus e sua Palavra- é a maior riqueza terrena a ser almejada; mais fácil passar um camelo no buraco da agulha do que um rico adentrar no Reino celestial, etc.

   Logo, como convergir esses aspectos, aparentemente, dissonantes? Como não poderia deixar de ser, em CRISTO. Jesus nos dá a paz que excede todo entendimento, um bem-estar que o mundo não é capaz de proporcionar. No Filho Unigênito há vida em abundância e somos mais que vencedores, ainda que durante as dificuldades (existentes a todos, indistintamente – "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo"). Tanto o santo como o pecador sofrerão. A diferença está no apoio recebido e na recuperação entre o que está amparado pela fé no Salvador e aquele que escolheu abraçar as ilusões do mundo.
  
   Mais do que o nosso conforto material e o sucesso secular, Deus está interessado no nosso crescimento espiritual, verdadeira riqueza, que a traça e o ladrão não poderão subtrair.
   Enfim, os verdadeiros estudiosos da Palavra estão aprendendo que, não importam as circunstâncias, "(...) a minha Graça te basta."

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O silêncio dos bons

    O crack deixou de ser uma droga associada a minorias, pois avança a passos assustadores no restante da sociedade. Cerca de 91% dos municípios do país já têm viciados nesse entorpecente. E por que ele vicia tão rápido? Porque até hoje não se conhece nada que provoque no cérebro um aumento tão grande de dopamina, o neurotransmissor que regula a sensação de bem-estar. Para se ter uma noção, a comida estimula em 50% a produção de dopamina; o álcool, 90%; o sexo, 100%; a cocaína, 230%. O crack, espantosos 900%.

    Muitos de nós podem testemunhar os dramas, alguns beirando a sucursais do inferno, experimentados por pessoas que tentam se livrar do alcoolismo. O que se dizer, então, de um narcótico quimicamente dez vezes mais viciante ? Cuja maioria dos seus usuários concorda que, basta uma única tragada - quase sempre, por curiosidade - para se tornar escravo desse veneno demoníaco.

    Interessante observarmos que, via de regra, há uma escala ou cadeia da drogadição. Particularmente, como monitor da Febem por cerca de 7 anos, pude constatar que quase todos os internos, com histórico de dependência química, passaram das drogas “socialmente aceitáveis” (cigarro e álcool), para as proibidas - o baseado, cola de sapateiro (“loló”), cocaína e, hodiernamente, o leque de desgraças amplia-se com o crack e o “oxi” (outro derivado da pasta de cocaína, mais lesivo que o crack).

    O efeito do crack sobre o organismo é muito mais intenso do que a cocaína, a despeito de ambos se originarem de sua pasta. Pois uma narina tem cerca de 4 centímetros quadrados - é esse o espaço alvejado pelo cloridrato, princípio ativo comum das drogas. Já o crack é fumado, de maneira a atingir os alvéolos pulmonares, cuja área tem, em média, 80 metros quadrados (a metade de uma quadra de tênis).

    Deploravelmente, mais de 90% dos dependentes que se sujeitam a um tratamento sofrem recaídas nos primeiros oito meses. E metade desiste, para voltar fatalmente para as pedras. No universo dessas almas atormentadas, três comentários me impressionaram especialmente. A seguir, passo a reproduzir breves trechos.

“Morei seis anos na rua. Conheci o crack aos 27 anos nos Estados Unidos, para onde viajei para fazer um curso de aviação. No final, pesava 40 quilos e pedia dinheiro nos semáforos. Foi num deles que conheci o meu filho. Ele tinha 3 anos e estava no carro da minha ex-namorada. Estava tão chapado que não tive reação nenhuma. Ao todo, enfrentei 25 internações – cinco involuntárias. O crack destrói a capacidade de planejar.” Fabian, 44 anos.

“Fumei 50 pedras em 24 horas. Fazia cinco meses que eu não usava nada. Mas, no ano passado, tive uma recaída. Quando me viu, meu filho, de 9 anos, perguntou: “Mãe, você usou droga e vai ficar longe de mim de novo?” Patrícia, 31 anos.

“Não conseguia mais raciocinar. Minha família me internou de novo, e de novo. Na última vez, estava em uma paranoia tão grande que cavava a grama da clínica e sacudia roupas atrás de uma pedra. Mal conseguia formular uma frase. Já faz dois anos que estou internado.” César, 26 anos.


“A classe média está fazendo o percurso: começa na bebida, passa pela maconha, vicia-se em cocaína e acaba no crack.” Delegado Wagner Giudice, diretor do Denarc.

(Informações extraídas da reportagem “O Crack Bate à Nossa Porta”, da Revista Veja, edição de 25 de janeiro de 2012.)

                                  Não me preocupo tanto com os estragos dos maus, mas com o silêncio dos bons.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sábado ou domingo?

    A troca oficial do sábado pelo domingo ocorreu em 321, quando o imperador romano Constantino editou "Que todos os juízes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol." (Ainda na atualidade há correlatos, como no Inglês,  Sunday.)
    O decreto fulcrou a adoração ao Deus-Sol ("Sol Invictus") no Império Romano. Em sua sede, Roma, a religião pagã do Mitraísmo dominava, e seus adeptos se reuniam no domingo. Os judeus, que guardavam o sábado, estavam sendo perseguidos. Muitos cristãos, para escapar dessa ameaça, começaram a guardar o domingo, mormente quando a Igreja Católica também oficializou o domingo, no ano de 364, como "die dominus" ("dia do Senhor") – um dos cânones do Concílio ou Sínodo de Laodiceia (determinação oriunda de trinta clérigos da Ásia Menor).

    De outra banda, pelas Sagradas Escrituras os sabadistas argumentam seu entendimento em passagens como Atos 13:42-44; 17:2 e 18:4. Já os cristãos que defendem o domingo, como dia para ser guardado, amparam-se precipuamente na exegese de que:
1- o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado;
2- Jesus Cristo é Senhor inclusive sobre o sábado;
3- Jesus Cristo ressuscitou em um domingo, rasgando o véu da Lei e inaugurando a era da graça.

    Sobre tal interpretação, atrevo-me a propor o contraponto que segue...

1- Se o sábado foi feito para o homem, e não o contrário, então também podemos dizer o mesmo em relação ao dia de domingo. O epicentro hermenêutico nessa depreensão está em seu contexto bíblico. Pois naquela passagem, parece-me evidente que houve uma crítica à superficialidade e hipocrisia do ritualismo, da religiosidade, da formalidade externa em detrimento ao amor autêntico (portanto, uma detração ao farisaismo, não propriamente ao dia a ser guardado pelos corações sinceramente tementes a Deus).

2- Sim, é verdade que Jesus Cristo, na qualidade de Deus Filho (Emanuel - Deus entre os homens), é Senhor sobre o sábado - como o é sobre o domingo e todas as demais coisas. Ainda assim, vale lembrar que Ele guardava os sábados, como memorial instituído pelo Pai. E fez lembrar que Ele veio para que as Escrituras se cumprissem, sem a eliminação nem sequer de um til delas.

3- A ressurreição de Jesus Cristo, advento-mor da cristandade, não autoriza (pelo menos de forma expressa e inequívoca, na Bíblia) a troca do sábado pelo domingo. Não houve uma mensagem direta, clara e precisa, nesse sentido. E uma vez que tal assunto - pelo menos a mim me parece – é de substancial relevância, não haveria de ser enunciado pelos apóstolos? Repiso: a troca do sábado pelo domingo não foi anunciada (como deveria ser, caso fosse ordenada por Jesus Cristo ressurreto) pelos evangelhos. Portanto, posso concluir que está o domingo mais próximo da doutrina dos homens e de seus costumes, do que o sábado...

    O período da graça - introduzido pela ressurreição - implica que nossos pecados, doravante, são perdoados pelo sangue redentor do Cordeiro advindo dos Céus. Isso não significa que a Lei foi abolida em seus propósitos, porém que suas infrações encontram remédio no reconhecimento e no arrependimento dos pecadores, submissos à Cruz. A salvação humana não está mais na tentativa de ser fiel à Lei (ainda a ser almejada, pelo menos em seus princípios de obediência, comunhão e santidade), mas no perdão ofertado por Jesus Cristo, aos que tentam cumpri-la e falham. Portanto, não por mérito próprio do homem, mas pela graça ofertada por Deus.
    Vale dizer, os dois principais mandamentos deixados por Jesus Cristo - amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - são uma apoteótica sinopse dos dez mandamentos erigidos pelo Pai. Contudo, não são uma revogação aos princípios anteriores. Senão, vejamos: todo aquele que cumpre aos dois mandamentos do Salvador, estará cumprindo com os dez descritos no Antigo Testamento. Entrementes, nem todo aquele que cumpre com esses dez estará cumprindo, plenamente, com os dois do Novo Testamento.

    No tocante ao sábado, vez que inexistiu uma expressa ordenança de substituição para o domingo, parece-me que o mais prudente a ser feito é mantê-lo vigente, ainda que de maneira um tanto diferente da aplicada, originalmente, às tribos mosaicas (quando, por exemplo, era vedado até mesmo o uso do fogo).
    Ainda assim, aos que buscam alegações favoráveis ao domingo, há diversos alvitres nesse sentido. Na internet, podemos encontrá-los em espaços como este: http://www.igrejabiblicacrista.com.br/pregacao/?page=estudos.php&id_texto=2048

    Confesso que não estou convicto sobre nenhum dos posicionamentos. Continuo, pois, a orar a Deus para que me oriente, também nesse aspecto. Respeito as divergências e mantenho o parecer de que o assunto é complexo e palpitante. É válida, com efeito, sua análise conjunta, gradual e minuciosa.
                                                                                                                                                       C.O.G.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

METANOIA (crisálida cristã)

Isaías 28:10

CURIOSIDADES BÍBLICAS
Observações inspiradas na pesquisa de Lee Strobel (jornalista ex-ateu, autor de “Em Defesa de Cristo” e “Em Defesa da Fé”).

1- Por que A Bíblia não fala sobre a mocidade de Jesus? R= Pelo gênero literário daquela época. As biografias da Antiguidade não eram tão minuciosas e completas como as de hoje. Nem tampouco eram tão apegadas a um rigor na ordem cronológica dos fatos. Antes, procuravam narrar os acontecimentos mais importantes. Além disso, é bom lembrar que, na maior parte do seu tempo, Jesus viveu em Nazaré, um vilarejo com uma população de, no máximo, 480 pessoas; um ponto minúsculo “no meio do nada”, com cerca de 60 acres. Um lugarejo tão insignificante que Natanael, em João 1:46, chega a comentar: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?”

2- Exemplos de pesquisa necessária para compreensão de etimologia e contextos, nas Escrituras: a) Jovem que pede para sepultar seus pais, antes de seguir a Jesus b) Jesus Filho do Homem (Daniel 7:13-14) c) sinal da divindade de Jesus: quando caminhou sobre as águas, disse “não temam, sou eu” (na tradução coloquial), mas em grego, originalmente, disse “não temam, eu sou” (como disse em João 8:58, quando toma para si o nome divino EU SOU, que é como Deus se revelou a Moisés na sarça ardente, em Êxodo 3:14)

3- Exemplo de confiança sobre a veracidade de narrativas antigas: as duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, foram escritas por Ariano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de Alexandre, em 323 a.C., e mesmo assim os historiadores as consideram muito confiáveis. Já o livro de Atos foi escrito, no máximo, cerca de trinta anos após a morte de Jesus. A crucificação ocorreu em 30 d.C., a conversão de Paulo em 32, seu primeiro encontro com os apóstolos em Jerusalém, em 35 d.C. Portanto, não estamos comparando 30 ou 60 anos com os 500 anos normalmente aceitos para outros dados – estamos falando de tão somente dois anos!

4- Os registros mais antigos encontrados, do Novo Testamento, são escritos em grego. Para se ter uma ideia de sua complexidade, observo que ele não continha ponto de interrogação e, ao contrário de outras línguas, como o inglês e o português, é uma língua que admite flexões. Vale dizer, com isso, que faz uma enorme diferença dizer, em português: “o cachorro morde o homem” ou “o homem morde o cachorro”. Pois a ordem das palavras é importante em português, mas não no grego. Nele uma palavra pode funcionar como sujeito da oração independentemente de onde esteja colocada.

5- Confirmações antigas e extrabíblicas: escavações arqueológicas em Massada e narrativas de Flávio Josefo e Tácito (respectivamente, considerados os historiadores judeu e romano mais importantes do século primeiro). Interessante o registro de Phlegon, um autor grego da Caria, escreveu sobre o quarto ano das Olimpíadas de 202 (ou seja, 33 d.C.), segundo o qual houve um grande “eclipse solar”, de maneira a anoitecer na sexta hora do dia (isto é, ao meio-dia), inclusive com o aparecimento de estrelas no céu. Houve um grande terremoto na Bitínia, e muitas coisas saíram fora de lugar em Nicéia.

6- Você sabia? Apesar de muitos contestarem o Novo Testamento, o cristianismo é a religião que tem uma documentação histórica mais recente sobre os fatos por ela narrados. As demais tiveram seus registros escritos muitos séculos após a suposta ocorrência dos acontecimentos basilares.

7- O apóstolo Paulo não conheceu a Cristo em vida, e uma vez que o apóstolo começou a escrever suas cartas antes que os evangelhos fossem escritos, encontramos nelas relatos extremamente antigos sobre Jesus. Além disso, o fato de Paulo – oriundo de uma cultura judaica monoteísta fundamentalista – adorar a Jesus como Deus, na Trindade, é muito significativo.

8- No livro “O veredicto da história”, o conceituado historiador Gary Habermas lista um total de 39 fontes antigas que documentam a vida de Jesus, das quais 24 (seis delas de origem secular) tratam especificamente da natureza divina de Jesus. Já um arqueólogo de renome analisou as referências que Lucas faz a 32 países, 54 cidades e 9 ilhas, e não achou um erro sequer.

9- O Antigo Testamento demonstra cerca de 48 profecias acerca do Messias, perfeitamente compatíveis à pessoa de Jesus Cristo. Por exemplo, leia ISAÍAS 53 (detalhe: cerca de 700 anos antes).

10- A probabilidade de apenas 8 profecias se cumprirem na mesma pessoa é de uma em cem trilhões.
11- “Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44)

12- “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Mt 11.3) – Por que Jesus não respondeu, de uma maneira clara e absoluta, simplesmente com um “sim, eu sou o Messias” ? Em vez disso, Ele responde de forma aparentemente enigmática. “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres.” (Mt. 11:4-5)
Isso ocorreu pois, a exemplo de sua tentação no deserto, Ele responde com a Palavra. Nesse caso, trata-se de evidente alusão a Isaías 61. Porém, por alguma razão, Jesus acrescentou a frase “os mortos são ressuscitados”, que claramente não faz parte do texto do Antigo Testamento. Pois aí que entra o 4Q521, manuscrito encontrado no Mar Morto, escrito em hebraico e que remonta a 30 anos do nascimento de Jesus Cristo. Esse fragmento das Escrituras contém uma versão de Isaías 61 em que consta a frase “os mortos são ressuscitados.”

13- Outro exemplo dos “links” entre o Antigo e o Novo Testamento: Jesus Cristo referiu-se como o Filho do Homem. Parece ser um predicado estranho, não? Pois na verdade Ele está citando o capítulo 7 de Daniel. Mais uma expressão aparentemente estranha: em Marcos 10, alguém se dirige a Jesus como “bom mestre”, ao que ele responde: “Por que você me chama bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus.” Ora, com isso Jesus não estaria negando a sua divindade?
R= Na verdade, Jesus está se certificando sobre o reconhecimento dos outros sobre si. Algo como “espero um pouco, por que estão me chamando de bom? Apenas por educação, querem me bajular ou afinal de contas reconhecem que bom mesmo só Deus, e se eu sou bom assim, também tenho parte com o Pai?
Será que vocês entendem realmente o que dizem quando me chamam de bom? Vocês estão proposital e convictamente querendo de fato atribuir a mim o que deve ser atribuído unicamente a Deus?”

14- Um médico especialista responde: Os evangelhos nos contam que Cristo começou a suar sangue no Getsêmani. Isso não seria uma figura de linguagem? R= Não. Esta é uma condição médica conhecida, chamada hematidrose. Não é comum, mas está ligada ao alto grau de estresse psicológico. Sobre as dores físicas da cruz: Os pregos, com cerca de 15 cm, atravessavam os pulsos (pois nas mãos não suportariam o peso do corpo). Você conhece o tipo de dor que sente quando bate o cotovelo e leva um “choque”? Na verdade , você acertou um nervo, chamado ulna. A dor é muito grande quando você o acerta em cheio. Bem, imagine este nervo sendo apertado e esmagado por um alicate. A sensação seria semelhante à que Jesus experimentou.
Tal suplício era totalmente insuportável. Está além da descrição por palavras. Foi necessário inventar uma nova palavra: dor excruciante. Essa palavra significa literalmente “da cruz”.

15- Clinicamente, a crucificação pode ser resumida, em essência, como uma lenta agonia até a morte por asfixia. Uma tortura atroz para a vítima que, ao tentar exalar, precisa firmar-se sobre os pés, para aliviar um pouco a tensão dos músculos. Ao fazer isso, o prego rasga o pé, até se prender contra os ossos do tarso. Depois de conseguir exalar, a pessoa pode inalar novamente. Para em seguida empurrar o próprio corpo para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso, num ciclo fatal, doloroso, até a exaustão. (Por isso que se quebravam as pernas dos condenados, para apressar a execução.)

16- O historiador atento, ao contrário de filósofos e céticos do mundo secular, não joga fora o bebê junto com a água do banho. Uma dúvida nem sempre compromete uma verdade. Por exemplo: temos duas narrativas da travessia dos Alpes por Aníbal para atacar Roma, e elas são incompatíveis e irreconciliáveis. Entretanto, nenhum historiador clássico duvida de que Aníbal levou a cabo sua campanha.

17- Em Mateus 12:40, Jesus Cristo disse que ficaria três dias ausente. No entanto, os evangelhos contam que Jesus na verdade ficou no túmulo apenas um dia inteiro, duas noites e parte de outros dois dias. Haveria uma contradição? R= Não, pois a maioria dos estudiosos reconhece que, de acordo com a maneira de os judeus antigamente contarem o tempo, uma parte mesmo que pequena de um dia contava como um dia inteiro.

18- O relacionamento das mulheres com Jesus, as quais o encontraram ressuscitado, não colocaria em suspeita o seu testemunho? R= Na verdade, esse argumento se volta contra as pessoas que o usam. Com certeza, essas mulheres eram amigas de Cristo. Mas para quem conhece o papel das mulheres na sociedade judaica do século I, é realmente extraordinário que essa história reporte que mulheres descobriram o túmulo vazio. Pois elas estavam em um nível muito baixo na escala social da Palestina, naquela época. Há antigas declarações de rabinos dizendo o seguinte. “É preferível que as palavras da Torá sejam queimadas do que entregues a mulheres” e “Feliz é quem tem filhos, mas ai de quem tem filhas”.
Portanto, o testemunho das mulheres era considerado tão sem valor que elas não eram nem admitidas como testemunhas em um tribunal judaico. Em vista disso, é realmente notável que as principais testemunhas do túmulo vazio sejam essas mulheres que eram amigas de Jesus. Qualquer relato lendário posterior, certamente, teria colocado os discípulos descobrindo o túmulo – Pedro e João, por exemplo.

19- Sobre os fatos, apesar de consumados há muito tempo: a ciência versa sobre causas e efeitos. Não vemos dinossauros, mas estudamos os fósseis. Podemos não saber como uma doença surge, mas estudamos seus sintomas. Talvez ninguém tenha visto um crime, mas a polícia reúne as evidências depois do fato.

20- Os discípulos morreram por suas crenças. Mas é importante lembrar que, quando Jesus foi crucificado, seus seguidores estavam desanimados e deprimidos. Eles não tinham mais certeza de que Jesus fora enviado por Deus, porque criam que toda pessoa crucificada era amaldiçoada por Deus. Eles também tinham recebido o ensino de que Deus não deixaria seu Messias passar pela morte. O movimento de Jesus fora detido no nascedouro. O que teria mudado tão radicalmente a situação, senão a convicção dos apóstolos de que viram, conversaram e comeram com Jesus redivivo?
21- Em contrapartida, tome-se como exemplo de artigos de fé a suposta conversão de Maomé. Ninguém sabe qualquer coisa sobre ela. Seu movimento foi calcado, fundamentalmente, pela conversão forçada (isto é, pela espada) dos povos conquistados.

22- A igreja primitiva: No tempo de Jesus, já fazia 700 anos que os judeus estavam sendo perseguidos por babilônios, assírios, persas, gregos e romanos. Muitos judeus tinham sido espalhados pelo mundo e viviam fora da sua terra. No entanto, ainda vemos judeus hoje, enquanto que não vemos hititas, perizeus, amonitas, assírios, persas, babilônios e outros povos daquela época. Por quê? Porque esses povos, ao serem conquistados por outras nações, misturaram-se com elas e perderam sua identidade nacional. Por que isso não aconteceu com os judeus? Porque fazem com que um judeu seja judeu, as estruturas sociais que lhe davam identidade cultural, eram incrivelmente importantes para eles. Os judeus passavam essas estruturas aos seus filhos, porque sabiam que, do contrário, em pouco tempo não haveria mais judeus. Seriam assimilados pelas culturas que os dominavam. Além disso, eles acreditavam que, abandonando tais estruturas, estariam correndo o risco de ver sua alma condenada ao inferno após a morte. Diante desse contexto, como explicar que um rabino desconhecido, de nome Jesus, oriundo de um vilarejo ignorado, fosse capaz de converter mais de 10 mil judeus, somente cinco semanas após ser executado pela humilhante crucificação?

Parafraseando Martin Luther King Jr., posso ainda não ser o homem que deveria ser ou o homem que, com a ajuda de Cristo, um dia serei – mas, graças a Deus, não sou mais o homem que eu era!