"NINGUÉM ESTÁ LIVRE DOS DEVANEIOS DE SUA ARTE,
OU DA CHINELADA DA LUCIDEZ ALHEIA." Cleberton O. Garmatz

"Estranhos dias os que vivemos, em que para se destacar em uma área, as pessoas se tornam imbecis nas demais." Cleberton
(Ai dos meus pares, que continuam medíocres em 100% delas...)
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sexta-feira, 29 de junho de 2012

A MORTE DO PAPAI NOEL


            Sou de uma geração cujo senso comum abrigava institutos como o do tratamento de “senhor” e “senhora” a pais e professores, autoridades máximas no cotidiano juvenil.  Hodiernamente, envido certa resignação a um sentimento de desconforto individual, na esteira da efemeridade de paradigmas sociais.
            Sem adentrar em uma nostalgia axiológica (pelo menos dessa amolação eu vos alivio), intuo certo extravio,  alguma coisa que foi deixada no caminho, além da própria inocência.  Quando cada vez mais precocemente trocamos “papai” por “pai”, “pai” por “coroa”, “coroa” por “velho”.  Atente minha sonolenta plateia (maltrapilhos e demais desocupados, ralé tão preciosa a este lunático) que não estou meramente me insurgindo contra expressões populares.  Minha semântica - algo quixotesca, para se dizer o mínimo - tenta antes dissecar meu absoluto despreparo, como forasteiro de um mundo fugaz, bizarro e contraditório. 
            Talvez seja a breve resenha uma indagação campesina, crônica diletante fadada ao oblívio alheio; não obstante, farpa que soçobra as rugas deste matuto esgualepado. Afinal, será uma excentricidade considerarmos como esqualidez moral a sanha contemporânea (neorrenascentista?), pela irreverência generalizada a todo conceito de ordem e sujeição? Enfim, parece-me evidente a absorção - “viral” - de um mascarado anarquismo, infiltrado na pragmática das ruas.
            Parece-me razoável supor que a patota da mídia, via de regra, parasitária de um consumismo autofágico, condiciona as massas de menor esclarecimento por abordagens rasas (contudo, estilizadamente sugestivas ou convidativas), que por fito reptício demonstram o vitupério aos limites prístinos.  Quando a embalagem é assim caprichada, bebe-se o veneno pelo vinho. Como derivado, entre outros tantos aspectos perniciosos, s.m.j., avança o descuido na observância da doutrina cristã.
            Se formalmente o cristianismo ainda é o credo de maior número de adeptos, à realidade empírica dos nossos dias, encontramos grande dificuldade para observar praticantes fidedignos. Para algumas vozes autossuficientes, pois, Deus está se tornando o “amigo imaginário dos adultos”, "efeito placebo motivacional", à guisa relativista-libertário-tecnológica dos ventos do politicamente correto.  De outra banda, na visão do ocidental pré-apocalíptico (algum incauto ainda não percebeu que a modernidade está indo às cucuias?), o vetusto Senhor dos Exércitos foi promovido – em um upgrade de estarrecer qualquer capiau do meu vilarejo – a um Jesus camarada, bonachão transbíblico, Deus do amor (homossexual, inclusive), que tudo perdoa, logo, tudo permite...
            (...)
            Sinais dos tempos.  Achais que exagero? (Sim, sou um paquiderme da época em que existiam verbos conjugados na segunda pessoa do plural.)  Quando guri, os padres tinham certeza de que todos nós iríamos para o inferno (merecidamente, a bem da verdade). Há alguns meses, na minha primeira semana de acadêmico na faculdade de Teologia, vai lá o caboclo me ensinar que nem sequer existe um inferno. Legal. Cool, dude. Cristo veio a Terra a passeio. Morreu por bobeira. (Salvar a quem, se não existe o andar de baixo?). Eita! Vida conturbada a do crente evangélico. A barafunda eclesiástica, dos discípulos “casuais” de Jesus, é de deixar o sacristão mais perdido que sapo em cancha de bocha, cueca em lua de mel.
            Eis a parada desconcertante entre a fé, fulcrada na Palavra viva do Criador (em que pese a celeuma sobre autenticidade e inerrância históricas), e a disseminada crença individual-panteísta: de Cristo somos seguidores livres, ou somos seguidores, livres de Cristo?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Contra a Farsa Democrática

     Para registrar os filhos, meus conterrâneos precisam acatar as condições estabelecidas pelo Estado. O mesmo acontece quando pretendem formalizar casamentos, constituir empresas, conduzir automóveis ou apenas trabalhar, legalmente.
     Observo, portanto, que sobre direitos fundamentais – alguns deles de ordem natural, inclusive – uma organização “externa” compele seres livres, no curso da abdicação parcial de suas liberdades, a se submeterem não a um consenso, mas a preceitos para padronizar condutas em diferentes culturas (regiões díspares de uma imensa federação).
     Entrementes, quando o assunto é o direito ao voto, não se projeta o múnus individual, o dever da responsabilidade social em cada decisão (que jamais será  isolada). Os critérios são minimalistas, claudicantes em sua singeleza. Por quê? Qual azo crônico para que, na responsabilidade de se emitir um instrumento de procuração (é o que cada voto significa), para que outrem trate de interesses coletivos, não se aplique semelhante rigor ao reconhecimento da capacitação?
     Em linhas gerais, recepciono o sardônico filósofo contemporâneo*, ao lembrar de Platão, corroborando que uns poucos são melhores do que a maioria dos homens. E mais: “a sensibilidade democrática odeia esta verdade: os homens não são iguais, e os poucos melhores sempre carregaram a humanidade nas costas.”  
     Ainda segundo o blasonador, algo mais evidente, de longa data neste país, é a tentativa de tachar qualquer um que critique a democracia como antidemocrático. Somado a isso, reeditamos a observação de Tocqueville, quando as duas formas mais claras de tirania estão no poder da maioria e do dinheiro.  Necessário, pois, combater a tendência de deturpar a democracia como um regime da “vontade popular”.  Ora, acenando-se algumas medidas assistencialistas (esmolas populistas), as massas de menor discernimento político acomodam-se em sua ignorância. Confiar nesse contingente de manobras, na escolha das autoridades governamentais, parece-me ato libertário: poeticamente irresponsável e periclitante, para se dizer o mínimo.
     Em seu ensaio provocativo, Pondé não suaviza palavras: a afirmação de que todos são iguais (quando a igualdade deveria existir apenas perante os tribunais) leva as pessoas mais idiotas a assumir que são capazes de opinar sobre tudo. O homem democrático, quando pretende saber algo, consulta o colega ao lado, e o que a maioria disser, ele assume como verdade.  Daí que, no lugar do conhecimento, a democracia criou a solenidade da opinião pública.
    Veja o fenômeno mundial da internet.  Algo que existe, precipuamente, graças à diretriz-mor da livre circulação de ideias e informações. Mera sugestão de aprimorar -ou solapar- sua fórmula, por uma restrição –ou filtro- na produção e acesso de dados parece algo extremamente antidemocrático. Afinal, a liberdade de conhecimento deve ser ampla, certo? Contudo... Nenhum sistema perdura sem um controle de excessos.  Nesse contexto, verificam-se a pornografia, pedofilia, redes criminosas, golpes, informações equivocadas, etc.
     No hodierno sistema eleitoral (para mim, um esquema eleitoral), por que as crianças não votam, se elas são brasileiras tanto quanto os adultos? Pela teleologia dos legisladores, porque é necessário ter uma capacidade mínima, a conduzir com razoável segurança o eleitor. Assim, na prática, qual é essa condição mínima, a postular a qualidade de eleitor? Segundo as convenções vigentes, basta o caboclo ter dezesseis anos. Não importa quão desinformado esteja.
     Há alguns anos, conheci uma senhora que votou no Collor porque “ele era bonito”. Arriégua! Eis um excelente motivo para se votar em alguém... Daí o questionamento lídimo: será que todo brasileiro poderá ser, uma vez a cada quatro anos, um médico em uma sala de cirurgia? Será que, em nome de uma nobre ideia de democracia (calcada em uma isonomia absoluta, pelo menos na ocasião do sufrágio), a cada quatro anos, qualquer brasileiro a partir dos dezesseis anos poderá ser um motorista de ônibus, um piloto de avião comercial? Pois ao fazer suas escolhas, pelo voto, todo brasileiro estará interferindo com a vida de diversos outros. Não somente o seu destino, também o de multidões está em jogo.
     Portanto, minha proposta – um tanto óbvia (e, em um primeiro momento, antipática, por seus ares elitistas) – é de uma preparação mais consistente, no processo de habilitação do voto.  Assim como todo condutor de veículo automotivo, em tese, deve passar por uma formação gradual, os eleitores devem ser selecionados (a exemplo do que a OAB faz com os bacharéis em Direito, para que possam exercer a advocacia).  Com o auxílio de universidades e organizações não governamentais, haveria cursos e testes teóricos, para que a nação possa confiar que os seus eleitores sabem discernir, pelo menos, conceitos basilares como partidos de direita, ditadura, finalidade do Congresso, demagogia, etc. Com efeito, o exercício do voto deixaria de ser compulsório, para atingir o patamar histórico de ser uma conquista da maturidade cidadã.
* Alusão a Luiz Felipe Pondé (“Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”).

SENTENÇA (às 4h15min de uma quinta-feira chuvosa)
" NÃO CONSIGO REVERENCIAR UM CARGO EM QUE
QUALQUER IMBECIL COM CONHECIMENTOS PODE OCUPÁ-LO. "

                                       Cleberton O. Garmatz (Xexéu)