Sou de uma geração cujo senso comum abrigava institutos como o do tratamento de “senhor” e “senhora” a pais e professores, autoridades máximas no cotidiano juvenil. Hodiernamente, envido certa resignação a um sentimento de desconforto individual, na esteira da efemeridade de paradigmas sociais.
Sem adentrar em uma nostalgia axiológica (pelo menos dessa amolação eu vos alivio), intuo certo extravio, alguma coisa que foi deixada no caminho, além da própria inocência. Quando cada vez mais precocemente trocamos “papai” por “pai”, “pai” por “coroa”, “coroa” por “velho”. Atente minha sonolenta plateia (maltrapilhos e demais desocupados, ralé tão preciosa a este lunático) que não estou meramente me insurgindo contra expressões populares. Minha semântica - algo quixotesca, para se dizer o mínimo - tenta antes dissecar meu absoluto despreparo, como forasteiro de um mundo fugaz, bizarro e contraditório.
Talvez seja a breve resenha uma indagação campesina, crônica diletante fadada ao oblívio alheio; não obstante, farpa que soçobra as rugas deste matuto esgualepado. Afinal, será uma excentricidade considerarmos como esqualidez moral a sanha contemporânea (neorrenascentista?), pela irreverência generalizada a todo conceito de ordem e sujeição? Enfim, parece-me evidente a absorção - “viral” - de um mascarado anarquismo, infiltrado na pragmática das ruas.
Parece-me razoável supor que a patota da mídia, via de regra, parasitária de um consumismo autofágico, condiciona as massas de menor esclarecimento por abordagens rasas (contudo, estilizadamente sugestivas ou convidativas), que por fito reptício demonstram o vitupério aos limites prístinos. Quando a embalagem é assim caprichada, bebe-se o veneno pelo vinho. Como derivado, entre outros tantos aspectos perniciosos, s.m.j., avança o descuido na observância da doutrina cristã.
Se formalmente o cristianismo ainda é o credo de maior número de adeptos, à realidade empírica dos nossos dias, encontramos grande dificuldade para observar praticantes fidedignos. Para algumas vozes autossuficientes, pois, Deus está se tornando o “amigo imaginário dos adultos”, "efeito placebo motivacional", à guisa relativista-libertário-tecnológica dos ventos do politicamente correto. De outra banda, na visão do ocidental pré-apocalíptico (algum incauto ainda não percebeu que a modernidade está indo às cucuias?), o vetusto Senhor dos Exércitos foi promovido – em um upgrade de estarrecer qualquer capiau do meu vilarejo – a um Jesus camarada, bonachão transbíblico, Deus do amor (homossexual, inclusive), que tudo perdoa, logo, tudo permite...
(...)
Sinais dos tempos. Achais que exagero? (Sim, sou um paquiderme da época em que existiam verbos conjugados na segunda pessoa do plural.) Quando guri, os padres tinham certeza de que todos nós iríamos para o inferno (merecidamente, a bem da verdade). Há alguns meses, na minha primeira semana de acadêmico na faculdade de Teologia, vai lá o caboclo me ensinar que nem sequer existe um inferno. Legal. Cool, dude. Cristo veio a Terra a passeio. Morreu por bobeira. (Salvar a quem, se não existe o andar de baixo?). Eita! Vida conturbada a do crente evangélico. A barafunda eclesiástica, dos discípulos “casuais” de Jesus, é de deixar o sacristão mais perdido que sapo em cancha de bocha, cueca em lua de mel.
Eis a parada desconcertante entre a fé, fulcrada na Palavra viva do Criador (em que pese a celeuma sobre autenticidade e inerrância históricas), e a disseminada crença individual-panteísta: de Cristo somos seguidores livres, ou somos seguidores, livres de Cristo?
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