domingo, 12 de abril de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
Pequenas Mortes
Três Cidades
Fronteira. Manhã quente de dezembro, terra vermelha, talvez fosse sábado. Havíamos recolhido doações entre os funcionários da Febem local. Com a carona de um integrante do Conselho Tutelar, fui distribuir os mantimentos a um segmento da patuleia desvalida, situado às margens da rodovia de acesso à cidade.
Eu tinha preparado o espírito para encarar o mundão canino, ou pelo menos assim pensara. Como de praxe, a coisa é mais feia do que na tv. Casebres amontoados por entulhos e lixo que fedia. Não é cenografia. Crianças sujas, padecendo de piolhos e barriga d’água, velhos deixados debaixo das árvores, em um improvisado asilo a campo aberto. Adolescentes (ou crianças?) grávidas. Não são figurantes.
Choro de bebês, pessoas desdentadas, farândola adornada por chagas, ataduras, moscas, ratos. Disneylândia cabocla. Não paga nada para entrar (mas para sair, muito).
Decidi entregar os donativos naquela banda da cidade pela lembrança de uma reportagem, veiculada por um jornaleco da região, na qual se flagrou o que era um dia na “vida” de uma família miserável (oxímoro que aturde como tabefe inesperado). Uma mãe de 18 anos –aspecto de 30- e sua penca de desnutridos, numa barraca de lona preta, à beira da estrada. Estava preparando o manjar do almoço: sopa de papelão e grama (huuuummmm... já mandaram a receita ao programa da Ana Maria Brega?).
Tão logo estacionamos, foram avistadas as cestas do Papai Noel paraguaio. Criou-se uma pequena multidão somali ao nosso redor, e a despeito do bom número de doadores, a brincadeira acabou sem ter começado, em menos de cinco minutos. Formigueiro humano. Sol que fustigava. Uma senhora, de bengala, estendeu sua mão trêmula para receber algum pacote. Que não mais existia. Um menino, no alto dos seus cinco ou seis anos, puxava-me pela calça; pergunta: “E eu, tio? Eu também quero. Dá um pra mim e minha mãe, tio.” Uma mulher chegou com uma panela vazia e os olhos marejados. Minha garganta estava seca. O rosto e o corpo gotejavam. Mas a gandaia acabou, bugrada, voltem para as jaulas! Dom Quixote natalino teve de dar no pé, antes que virasse guisado da ceia.
Estômago embrulhado, nervos chapados. Volto ao local de trabalho, onde encontro os colegas falando alto, dando risadas, às voltas com um leitão ao forno, cheiroso, lauto em iguarias de acompanhamento. Sorvete, refrigerantes, frutas, petiscos. Sirva-se à vontade, bom cidadão. “Jet leg do carai!” Inferno e céu em poucos minutos. Não há Virgílio que me explique dantesca incoerência. Feliz Natal.
Capital gaúcha. Vinte e três horas, nas ruas congeladas do Centro que exalava urina. Salgado Filho com a Borges de Medeiros, o marcador eletrônico acusava dois graus. Não se sabe em qual sauna... A sensação térmica era de uma nevasca, de um vento polar que rasgava o ânimo de qualquer esquimó. Jesus, eu já estava nervoso, irritado com aquele frio implacável, aquilo não era ambiente civilizado; não aguentava mais andar naquela geladeira urbana. Conquanto vestia estratos grossos de lã, o ar era pesado, cortante, parecia queimar o rosto. Pernas cansadas, tudo era um suplício glacial. Começava a experimentar um pavor de ser petrificado ali mesmo. Foi quando levei o susto, tomado de espanto pelo surrealismo bandido. Cena comum, coisa despercebida pelo homem moderno (acostumado com a insanidade travestida de alguma lógica). Seis ou oito crianças, chinelos, inermes, sem cobertas, apenas jornais. Amontoadas para aquecerem-se entre si, tentando dormir na calçada escura. Ao lado da parada de ônibus, enquanto eu aguardava um tabefe para me recuperar do impacto.
Tal foi aquele frio, que ainda mora em mim.
Curiti-bah! Eu e a dona encrenca fomos jantar fora. Em grande estilo. Feirinha itinerante – às quintas, na Nossa Senhora da Luz – para apreciar cachorro-quente de barraquinha. Elite é outra coisa, fio... Como bom cavalheiro, deixo que a esposa saia do carro para buscar a nossa encomenda. E aguardo no outro lado das luzes e quiosques. Sentia-me extenuado, sem forças para um peido, quase dragado por um cansaço semanal, no estresse de uma metrópole. Começo a tergiversar, viajando na maionese estragada, coisas do gênero.
Quando percebo um vulto, pela visão periférica, nas sombras do estacionamento em frente da feira. Estava no chão, escorando suas costas na parede. Ignorando os perigos da selva, algo me leva até a figura incógnita. Sem muito traquejo, pergunto se ele era um guardador de carros. Negou. Pergunto o seu nome. Num fiapo cândido de voz, responde: João. Era um velhinho, daqueles meigos, de peça publicitária, que gostaríamos de ter na família. Poderia ser a personificação de um Santa Clauss. Não fossem as latas de lixo. A escuridão. O abandono silente. O anonimato das estatísticas.
A figura maltrapilha ficou ali, testemunhando o despreparo deste palerma. Doente, fraca. E muito mais cansada do que eu.
Fronteira. Manhã quente de dezembro, terra vermelha, talvez fosse sábado. Havíamos recolhido doações entre os funcionários da Febem local. Com a carona de um integrante do Conselho Tutelar, fui distribuir os mantimentos a um segmento da patuleia desvalida, situado às margens da rodovia de acesso à cidade.
Eu tinha preparado o espírito para encarar o mundão canino, ou pelo menos assim pensara. Como de praxe, a coisa é mais feia do que na tv. Casebres amontoados por entulhos e lixo que fedia. Não é cenografia. Crianças sujas, padecendo de piolhos e barriga d’água, velhos deixados debaixo das árvores, em um improvisado asilo a campo aberto. Adolescentes (ou crianças?) grávidas. Não são figurantes.
Choro de bebês, pessoas desdentadas, farândola adornada por chagas, ataduras, moscas, ratos. Disneylândia cabocla. Não paga nada para entrar (mas para sair, muito).
Decidi entregar os donativos naquela banda da cidade pela lembrança de uma reportagem, veiculada por um jornaleco da região, na qual se flagrou o que era um dia na “vida” de uma família miserável (oxímoro que aturde como tabefe inesperado). Uma mãe de 18 anos –aspecto de 30- e sua penca de desnutridos, numa barraca de lona preta, à beira da estrada. Estava preparando o manjar do almoço: sopa de papelão e grama (huuuummmm... já mandaram a receita ao programa da Ana Maria Brega?).
Tão logo estacionamos, foram avistadas as cestas do Papai Noel paraguaio. Criou-se uma pequena multidão somali ao nosso redor, e a despeito do bom número de doadores, a brincadeira acabou sem ter começado, em menos de cinco minutos. Formigueiro humano. Sol que fustigava. Uma senhora, de bengala, estendeu sua mão trêmula para receber algum pacote. Que não mais existia. Um menino, no alto dos seus cinco ou seis anos, puxava-me pela calça; pergunta: “E eu, tio? Eu também quero. Dá um pra mim e minha mãe, tio.” Uma mulher chegou com uma panela vazia e os olhos marejados. Minha garganta estava seca. O rosto e o corpo gotejavam. Mas a gandaia acabou, bugrada, voltem para as jaulas! Dom Quixote natalino teve de dar no pé, antes que virasse guisado da ceia.
Estômago embrulhado, nervos chapados. Volto ao local de trabalho, onde encontro os colegas falando alto, dando risadas, às voltas com um leitão ao forno, cheiroso, lauto em iguarias de acompanhamento. Sorvete, refrigerantes, frutas, petiscos. Sirva-se à vontade, bom cidadão. “Jet leg do carai!” Inferno e céu em poucos minutos. Não há Virgílio que me explique dantesca incoerência. Feliz Natal.
Capital gaúcha. Vinte e três horas, nas ruas congeladas do Centro que exalava urina. Salgado Filho com a Borges de Medeiros, o marcador eletrônico acusava dois graus. Não se sabe em qual sauna... A sensação térmica era de uma nevasca, de um vento polar que rasgava o ânimo de qualquer esquimó. Jesus, eu já estava nervoso, irritado com aquele frio implacável, aquilo não era ambiente civilizado; não aguentava mais andar naquela geladeira urbana. Conquanto vestia estratos grossos de lã, o ar era pesado, cortante, parecia queimar o rosto. Pernas cansadas, tudo era um suplício glacial. Começava a experimentar um pavor de ser petrificado ali mesmo. Foi quando levei o susto, tomado de espanto pelo surrealismo bandido. Cena comum, coisa despercebida pelo homem moderno (acostumado com a insanidade travestida de alguma lógica). Seis ou oito crianças, chinelos, inermes, sem cobertas, apenas jornais. Amontoadas para aquecerem-se entre si, tentando dormir na calçada escura. Ao lado da parada de ônibus, enquanto eu aguardava um tabefe para me recuperar do impacto.
Tal foi aquele frio, que ainda mora em mim.
Curiti-bah! Eu e a dona encrenca fomos jantar fora. Em grande estilo. Feirinha itinerante – às quintas, na Nossa Senhora da Luz – para apreciar cachorro-quente de barraquinha. Elite é outra coisa, fio... Como bom cavalheiro, deixo que a esposa saia do carro para buscar a nossa encomenda. E aguardo no outro lado das luzes e quiosques. Sentia-me extenuado, sem forças para um peido, quase dragado por um cansaço semanal, no estresse de uma metrópole. Começo a tergiversar, viajando na maionese estragada, coisas do gênero.
Quando percebo um vulto, pela visão periférica, nas sombras do estacionamento em frente da feira. Estava no chão, escorando suas costas na parede. Ignorando os perigos da selva, algo me leva até a figura incógnita. Sem muito traquejo, pergunto se ele era um guardador de carros. Negou. Pergunto o seu nome. Num fiapo cândido de voz, responde: João. Era um velhinho, daqueles meigos, de peça publicitária, que gostaríamos de ter na família. Poderia ser a personificação de um Santa Clauss. Não fossem as latas de lixo. A escuridão. O abandono silente. O anonimato das estatísticas.
A figura maltrapilha ficou ali, testemunhando o despreparo deste palerma. Doente, fraca. E muito mais cansada do que eu.
domingo, 1 de março de 2009
RECORTES
Millôr Fernandes:
Brasil, país do faturo.
A sociedade brasileira é uma das mais curiosas do mundo. Mal tem condições de dar um emprego de salário mínimo. Mas, se um pobre transgride suas regras, bota-o numa prisão que custa seis salários mínimos.
La Rochefoucald:
Todos nós temos bastante força para superar os problemas dos outros.
Se não tivéssemos defeitos não sentiríamos tanto prazer em notar os alheios.
Só confessamos os pequenos defeitos para persuadir os que nos ouvem de que não os temos grandes.
Marquês de Marica:
O fraco ofendido desabafa maldizendo.
O Brasil é feito por nós. Um dia conseguiremos desatá-los?
É muito rico aquele homem que possui um grande capital de desenganos e verdades.
O medo provém da experiência e da falta dela.
Quatro tribunais nos julgam e nos condenam neste mundo: o da natureza, o das leis, o da própria consciência e o da opinião pública; podemos escapar de algum mas não de todos.
O calor nos debates e disputas provem mais do amor-próprio ofendido que do interesse pela verdade.
Emerson:
Odiar alguém é como queimar a própria casa para livrar-se de um rato.
Mark Twain:
Bancos são estabelecimentos que pedem seu relógio emprestado para lhe dizer as horas. Alguns não o devolvem
William Shakespeare:
Melhor assim: saber que é desprezado do que sê-lo sob a capa da lisonja.
Ela me dá capim e eu zurro.
Confúcio:
Não te suponhas tão grande a ponto de pensares ver os outros menores que ti.
Montaigne:
A vida já me concebeu oportunidade de encontrar centenas de artesãos e lavradores mais sábios e mais felizes do que muitos reitores.
C.C. Colton:
* Os homens altercam pela religião; escrevem sobre ela; lutam por ela; fazem tudo, menos viver por ela.
Balmés:
Um pouco de filosofia inclina o homem ao ateísmo, mas a profundidade em filosofia leva o homem à religião.
São Jerônimo:
Na oração falamos a Deus; na boa leitura é Deus que nos fala.
Platão:
Todos os homens deveriam, no início de suas empresas, invocar o auxílio de Deus.
Mário S. Pinto:
Ter razão é fácil; perceber que os outros tem, eis o problema.
Victor Hugo:
Pitágoras, Epicuro, Sócrates Platão são raios de luz; Cristo é o dia.
Sócrates:
Três coisas precisam os homens: prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara.
Brasil, país do faturo.
A sociedade brasileira é uma das mais curiosas do mundo. Mal tem condições de dar um emprego de salário mínimo. Mas, se um pobre transgride suas regras, bota-o numa prisão que custa seis salários mínimos.
La Rochefoucald:
Todos nós temos bastante força para superar os problemas dos outros.
Se não tivéssemos defeitos não sentiríamos tanto prazer em notar os alheios.
Só confessamos os pequenos defeitos para persuadir os que nos ouvem de que não os temos grandes.
Marquês de Marica:
O fraco ofendido desabafa maldizendo.
O Brasil é feito por nós. Um dia conseguiremos desatá-los?
É muito rico aquele homem que possui um grande capital de desenganos e verdades.
O medo provém da experiência e da falta dela.
Quatro tribunais nos julgam e nos condenam neste mundo: o da natureza, o das leis, o da própria consciência e o da opinião pública; podemos escapar de algum mas não de todos.
O calor nos debates e disputas provem mais do amor-próprio ofendido que do interesse pela verdade.
Emerson:
Odiar alguém é como queimar a própria casa para livrar-se de um rato.
Mark Twain:
Bancos são estabelecimentos que pedem seu relógio emprestado para lhe dizer as horas. Alguns não o devolvem
William Shakespeare:
Melhor assim: saber que é desprezado do que sê-lo sob a capa da lisonja.
Ela me dá capim e eu zurro.
Confúcio:
Não te suponhas tão grande a ponto de pensares ver os outros menores que ti.
Montaigne:
A vida já me concebeu oportunidade de encontrar centenas de artesãos e lavradores mais sábios e mais felizes do que muitos reitores.
C.C. Colton:
* Os homens altercam pela religião; escrevem sobre ela; lutam por ela; fazem tudo, menos viver por ela.
Balmés:
Um pouco de filosofia inclina o homem ao ateísmo, mas a profundidade em filosofia leva o homem à religião.
São Jerônimo:
Na oração falamos a Deus; na boa leitura é Deus que nos fala.
Platão:
Todos os homens deveriam, no início de suas empresas, invocar o auxílio de Deus.
Mário S. Pinto:
Ter razão é fácil; perceber que os outros tem, eis o problema.
Victor Hugo:
Pitágoras, Epicuro, Sócrates Platão são raios de luz; Cristo é o dia.
Sócrates:
Três coisas precisam os homens: prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara.
Reflexão
AQUELE QUE SE AJOELHA DIANTE DE DEUS
NÃO SE CURVA DIANTE DOS PROBLEMAS
-Como se apaga um incêndio? Ateando-lhe combustão, ou arrefecendo suas labaredas com água? - Como se fazer ouvir por uma pessoa encolerizada? Será com maiores gritos ou modulando-se a voz em um tom baixo e amistoso? – Como aplacar a fome, senão com alimento, o frio, senão com o calor, as trevas, senão com a luz?
Não nos limpamos ao revidar a lama atingida. O desrespeito não conhece maior antídoto que o autodomínio, esclarecido e altruísta. Assim como o melhor método para se eliminar um inimigo é torná-lo um amigo.
Sabemos disso tudo, fazemos gênero “blasé” face a evidências universais e embrionárias. O grande desafio está em transpor o postulado ao comando das reações nervosas (estímulos fugazes do estresse rotineiro). Parece-nos faltar o adestramento perene no confronto mundano das atividades, uma reeducação dos instintos e temperamentos, freios à língua, blindagem aos dias de cafajeste. Expediente que começo a vislumbrar pela manifestação sobrenatural do Senhor...
Há muitos séculos que a humanidade busca uma interação deista, porquanto é latente e intrínsica a percepção de uma Causa, da existência de um supedâneo maior que gerou a vida e os corpos celestes. Nessas tentativas humanas, diversos ritos e seitas foram inventadas, sem que se tenham presenciados sinais do mistério divino. Enfim, é chegada a vez de Deus se revelar às suas crianças, de maneira que nos confia o seu manual de conduta para que tenhamos acesso a um relacionamento íntimo com a sua santa natureza.
Leia, pesquise, teste, contraste e experimente os ensinamentos incomparáveis da Bíblia! Deus deseja se fazer conhecido entre os homens, para isso é preciso entrarmos em sintonia com o Bem, a Pureza, o Sagrado: pela santidade, possível a toda pessoa que confessa as suas falhas diante do Criador e implora por perdão, o qual é garantido a todo coração sincero, graças à expiação do imaculado sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso salvador e rei eterno! Crer em Jesus Cristo significa segui-lo, conforme os seus ensinamentos. O mundo jaz no maligno, afinal Deus não é ditador, nos deu a liberdade para que possamos escolher nossas veredas e efeitos. Porém, jamais nos abandonou, ainda que a maldade campeie aos olhos mundanos.
Lembremo-nos de João 3:16 e de Atos 16:31. Leia, compare e pratique as lições bíblicas!
“Não sei qual será o meu caminho amanhã. Mas eu sei quem será o meu guia.” (Lutero)
NÃO SE CURVA DIANTE DOS PROBLEMAS
-Como se apaga um incêndio? Ateando-lhe combustão, ou arrefecendo suas labaredas com água? - Como se fazer ouvir por uma pessoa encolerizada? Será com maiores gritos ou modulando-se a voz em um tom baixo e amistoso? – Como aplacar a fome, senão com alimento, o frio, senão com o calor, as trevas, senão com a luz?
Não nos limpamos ao revidar a lama atingida. O desrespeito não conhece maior antídoto que o autodomínio, esclarecido e altruísta. Assim como o melhor método para se eliminar um inimigo é torná-lo um amigo.
Sabemos disso tudo, fazemos gênero “blasé” face a evidências universais e embrionárias. O grande desafio está em transpor o postulado ao comando das reações nervosas (estímulos fugazes do estresse rotineiro). Parece-nos faltar o adestramento perene no confronto mundano das atividades, uma reeducação dos instintos e temperamentos, freios à língua, blindagem aos dias de cafajeste. Expediente que começo a vislumbrar pela manifestação sobrenatural do Senhor...
Há muitos séculos que a humanidade busca uma interação deista, porquanto é latente e intrínsica a percepção de uma Causa, da existência de um supedâneo maior que gerou a vida e os corpos celestes. Nessas tentativas humanas, diversos ritos e seitas foram inventadas, sem que se tenham presenciados sinais do mistério divino. Enfim, é chegada a vez de Deus se revelar às suas crianças, de maneira que nos confia o seu manual de conduta para que tenhamos acesso a um relacionamento íntimo com a sua santa natureza.
Leia, pesquise, teste, contraste e experimente os ensinamentos incomparáveis da Bíblia! Deus deseja se fazer conhecido entre os homens, para isso é preciso entrarmos em sintonia com o Bem, a Pureza, o Sagrado: pela santidade, possível a toda pessoa que confessa as suas falhas diante do Criador e implora por perdão, o qual é garantido a todo coração sincero, graças à expiação do imaculado sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso salvador e rei eterno! Crer em Jesus Cristo significa segui-lo, conforme os seus ensinamentos. O mundo jaz no maligno, afinal Deus não é ditador, nos deu a liberdade para que possamos escolher nossas veredas e efeitos. Porém, jamais nos abandonou, ainda que a maldade campeie aos olhos mundanos.
Lembremo-nos de João 3:16 e de Atos 16:31. Leia, compare e pratique as lições bíblicas!
“Não sei qual será o meu caminho amanhã. Mas eu sei quem será o meu guia.” (Lutero)
ADMIRÁVEL
Admirável Mundo Néscio
Do universo de coisas das quais sou parvo de roldão, cito episódio corriqueiro nestas bandas.
Eis o morador do propalado “Resort Dubai”, digníssimo Senhor A. B. de C. e D., cioso burrocrata federal, esposo infiel da Senhora Fulana, pai de Júnior e do temporão Beltrano Filho. Em sua misantropia de elite, quando não goza de suas merecidas férias em terras estrangeiras, costuma iniciar os dias com o desjejum “cinematográfico” (consoante escrutínio da alcaguete do condomínio de luxo, casa 26) das oito horas. Conversa, graceja, faz blague ao simular pequeno atrito com o caçula desleixado na escola. Meia hora depois está no bem conceituado departamento, onde chefia a repartição de análise logística de apoio e assessoria para suporte administrativo, subseção de obras da Secretaria do Escambaus.
Quando da farra retorna, proclama-se o mais estropiado dos mortais, ameaça dar safanões se o guri não parar de estremecer o quarteirão, através do “funk proibidão” no seu quarto.
Dizem as línguas efusivas (da casa 26), subsidiadas pelo depoimento compromissado de uma das três empregadas domésticas do casal, que vez em quando o senhor A. traz um mimo para sua siliconada esposa, ladeado à porfia de ramalhetes silvestres. No início, suspeitou-se que o cidadão fosse proprietário de alguma floricultura. Ou que ele deveria aprontar pra caramba... Seja como for, o homem encontra sua residência organizada para recepcioná-lo, as geladeiras abarrotadas com suas iguarias diletas (e outras extravagâncias gastronômicas ainda não catalogadas), as contas devidamente afastadas de suas vistas, o roupeiro metódico em trajes notáveis, tudo sofisticado, elegante, “clean and cool”, padrão da diretoria.
Uma vizinha contou (a quem mais?) que a Senhora Fulana, quem diria, gostava de zelar pelo repouso do guerreiro, não lhe negando as provocativas “lingeries” importadas e as gotas de “eau” parisiense. Coisa picante, pelo crivo do posto avançado da casa 26.
Naturalmente, ocorrem alguns eventuais arranca-rabos. Certa feita, a mulher, exasperada, fuzilou: -“O quê? Fala, o que te falta, o que está errado? Está insatisfeito com o quê, senhor meu marido?” Ao que a artilharia rival prontamente rebateu: -“Ah é, quer saber mesmo? Pois saiba que eu me sinto pressionado, sem espaço para os meus projetos, isso tudo me sufoca, tu não sabes as responsabilidades que tenho. Os meus sonhos. Quero progredir, Fulana. Pro-gre-dir! Ou pensas que vou terminar os meus dias nesta mesmice?”
Blá-blá-blá.
Livremo-nos da intempérie conjugal, para maltratarmos a privacidade – vale o oxímoro – de um dos milhares de andarilhos, o sem-teto Zé, cujo paradeiro mais regular estava na laje irregular de um exíguo terreno baldio, adjacente à garagem da bagaça.
Conheci o esfuziante –ou seria apenas simpático?- mendigo por algumas conversas sazonais. Soube que o seu pai, João da Silva, foi um grande auxiliar de servente no ramo da construção civil. Chegou a fazer duas faculdades (não fez a terceira porque acabou o cimento). Faltou pouco para ser “que nem esses doutô engenhero”, nas suas reverências póstumas, inobstante certas ressalvas. “Eu era ainda piqueno. Ele tinha dia que chegava na cana, gambazão. Daí ele sentava a mão cumigo e a muié dele.”
Disse-me que não sabia quem foi sua genitora, como também desconhecia o endereço de sua parentela. “Ah, nessas hora num tem ninguém por nóis, né Seu.” Sabia apenas de seus três irmãos, todos já encaminhados na vida: “um tá no cemitério, outro tá na cadeia da Capital, e a mana é puta de zona rica, coisa fina, Seu.”
Quanto a si, não era um profissional talentoso, todavia não se considerava um inválido, apesar de alguns defeitos físicos. “Num sô vagabundo que eles me xingam.” Na tentativa de evitar maiores constrangimentos, acordava mais cedo do que a maioria, pois “(...) na rua num tem domingo nem feriado, né Seu.” Ainda assim, era enxotado.
Contou-me, dia desses, em um misto de desesperança e amargura, lamentação e fadiga, que seria menos penoso arranjar um ganha-pão caso não tivesse de sair perambulando em busca de algo sólido para engolir. Algo para reduzir a fraqueza, as dores de cabeça e do tísico estômago que latejava.
-“Mais ainda bem que num precisa muita cosa pra uma pança como esta, né Seu.”
Havia momentos em que parecia macambúzio, espectro errante de pele esquálida. Desdentado, esboçava aquilo que outrora seria o rascunho de um sorriso: “Eu num minto, Seu. Tem veiz que eu tomo umas pinga sim. É baratinha, custa pouco, e faz dormir e esquecer a judiaria. Me ajuda a enganá a fome, Seu.”
Em uma noite extremamente fria, cortesia do inverno fronteiriço gaúcho, pude auxiliá-lo com um velho cobertor. Conversamos coisas diversas. Despedi-me com uma pergunta tautológica, destinada a me acompanhar até a campa.
-“Zé, se fosse pra fazer um pedido qualquer, o que tu querias hoje?”
No que ele fitou-me, de inopino, com os globos vidrados e assustadores (convictos como Deus no meu juízo derradeiro), e respondeu baixinho, quase um sussurro:
-“Queria ser gente.”
Nunca mais o encontrei.
“Pudessem todos os homens se lembrar que são irmãos.” (Voltaire)
Do universo de coisas das quais sou parvo de roldão, cito episódio corriqueiro nestas bandas.
Eis o morador do propalado “Resort Dubai”, digníssimo Senhor A. B. de C. e D., cioso burrocrata federal, esposo infiel da Senhora Fulana, pai de Júnior e do temporão Beltrano Filho. Em sua misantropia de elite, quando não goza de suas merecidas férias em terras estrangeiras, costuma iniciar os dias com o desjejum “cinematográfico” (consoante escrutínio da alcaguete do condomínio de luxo, casa 26) das oito horas. Conversa, graceja, faz blague ao simular pequeno atrito com o caçula desleixado na escola. Meia hora depois está no bem conceituado departamento, onde chefia a repartição de análise logística de apoio e assessoria para suporte administrativo, subseção de obras da Secretaria do Escambaus.
Quando da farra retorna, proclama-se o mais estropiado dos mortais, ameaça dar safanões se o guri não parar de estremecer o quarteirão, através do “funk proibidão” no seu quarto.
Dizem as línguas efusivas (da casa 26), subsidiadas pelo depoimento compromissado de uma das três empregadas domésticas do casal, que vez em quando o senhor A. traz um mimo para sua siliconada esposa, ladeado à porfia de ramalhetes silvestres. No início, suspeitou-se que o cidadão fosse proprietário de alguma floricultura. Ou que ele deveria aprontar pra caramba... Seja como for, o homem encontra sua residência organizada para recepcioná-lo, as geladeiras abarrotadas com suas iguarias diletas (e outras extravagâncias gastronômicas ainda não catalogadas), as contas devidamente afastadas de suas vistas, o roupeiro metódico em trajes notáveis, tudo sofisticado, elegante, “clean and cool”, padrão da diretoria.
Uma vizinha contou (a quem mais?) que a Senhora Fulana, quem diria, gostava de zelar pelo repouso do guerreiro, não lhe negando as provocativas “lingeries” importadas e as gotas de “eau” parisiense. Coisa picante, pelo crivo do posto avançado da casa 26.
Naturalmente, ocorrem alguns eventuais arranca-rabos. Certa feita, a mulher, exasperada, fuzilou: -“O quê? Fala, o que te falta, o que está errado? Está insatisfeito com o quê, senhor meu marido?” Ao que a artilharia rival prontamente rebateu: -“Ah é, quer saber mesmo? Pois saiba que eu me sinto pressionado, sem espaço para os meus projetos, isso tudo me sufoca, tu não sabes as responsabilidades que tenho. Os meus sonhos. Quero progredir, Fulana. Pro-gre-dir! Ou pensas que vou terminar os meus dias nesta mesmice?”
Blá-blá-blá.
Livremo-nos da intempérie conjugal, para maltratarmos a privacidade – vale o oxímoro – de um dos milhares de andarilhos, o sem-teto Zé, cujo paradeiro mais regular estava na laje irregular de um exíguo terreno baldio, adjacente à garagem da bagaça.
Conheci o esfuziante –ou seria apenas simpático?- mendigo por algumas conversas sazonais. Soube que o seu pai, João da Silva, foi um grande auxiliar de servente no ramo da construção civil. Chegou a fazer duas faculdades (não fez a terceira porque acabou o cimento). Faltou pouco para ser “que nem esses doutô engenhero”, nas suas reverências póstumas, inobstante certas ressalvas. “Eu era ainda piqueno. Ele tinha dia que chegava na cana, gambazão. Daí ele sentava a mão cumigo e a muié dele.”
Disse-me que não sabia quem foi sua genitora, como também desconhecia o endereço de sua parentela. “Ah, nessas hora num tem ninguém por nóis, né Seu.” Sabia apenas de seus três irmãos, todos já encaminhados na vida: “um tá no cemitério, outro tá na cadeia da Capital, e a mana é puta de zona rica, coisa fina, Seu.”
Quanto a si, não era um profissional talentoso, todavia não se considerava um inválido, apesar de alguns defeitos físicos. “Num sô vagabundo que eles me xingam.” Na tentativa de evitar maiores constrangimentos, acordava mais cedo do que a maioria, pois “(...) na rua num tem domingo nem feriado, né Seu.” Ainda assim, era enxotado.
Contou-me, dia desses, em um misto de desesperança e amargura, lamentação e fadiga, que seria menos penoso arranjar um ganha-pão caso não tivesse de sair perambulando em busca de algo sólido para engolir. Algo para reduzir a fraqueza, as dores de cabeça e do tísico estômago que latejava.
-“Mais ainda bem que num precisa muita cosa pra uma pança como esta, né Seu.”
Havia momentos em que parecia macambúzio, espectro errante de pele esquálida. Desdentado, esboçava aquilo que outrora seria o rascunho de um sorriso: “Eu num minto, Seu. Tem veiz que eu tomo umas pinga sim. É baratinha, custa pouco, e faz dormir e esquecer a judiaria. Me ajuda a enganá a fome, Seu.”
Em uma noite extremamente fria, cortesia do inverno fronteiriço gaúcho, pude auxiliá-lo com um velho cobertor. Conversamos coisas diversas. Despedi-me com uma pergunta tautológica, destinada a me acompanhar até a campa.
-“Zé, se fosse pra fazer um pedido qualquer, o que tu querias hoje?”
No que ele fitou-me, de inopino, com os globos vidrados e assustadores (convictos como Deus no meu juízo derradeiro), e respondeu baixinho, quase um sussurro:
-“Queria ser gente.”
Nunca mais o encontrei.
“Pudessem todos os homens se lembrar que são irmãos.” (Voltaire)
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Leia isto!!!
CIDADÃOS DO CÉU
(Este texto - de autoria desconhecida - foi escrito por volta do ano 200, em Alexandria, e mostra como os cristãos eram vistos por seus contemporâneos.)
“Os cristãos não tem nada de diferente, comparados aos outros homens: nem as comunidades nas quais eles moram, nem a língua que falam, nem as roupas que vestem. Eles não vivem em locais apartes nem utilizam uma linguagem particular. Sua vida é normal... Eles estão espalhados nas cidades gregas ou bárbaras, vivendo segundo as condições de cada uma delas, e adaptando-se aos costumes do lugar no que diz respeito às vestimentas, à alimentação, à maneira de viver. Mas ao mesmo tempo eles seguem leis extraordinárias, que podem parecer paradoxais, de sua república espiritual.
Os cristãos residem cada um em sua pátria, mas permanecem nela como estrangeiros que ali moram. Participam de tudo, como cidadãos, mas suportam todos os encargos como estrangeiros. Toda terra estrangeira é para eles uma pátria e toda pátria é terra estrangeira.
Eles se casam como todo mundo, tem filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. São feitos de carne, mas não vivem segundo a carne.
Eles passam a vida na Terra, mas são cidadãos do céu. Obedecem às leis vigentes, mas por sua maneira de viver são vitoriosos sobre as leis. Eles amam todos os homens, mas todos os perseguem. Eles são desrespeitados, são condenados e mortos: e é nesse momento que ganham a vida. Eles são pobres, mas todos enriquecem à sua custa. Não tem nada, mas possuem tudo. Encontram sua glória no desprezo e sua justificam na calúnia. Eles bendizem os que os insultam, honram os que os ultrajam.
Eles, que só fazem o bem, são punidos como celerado, mas se regozijam no castigo, pois isso os faz nascer para a vida.
Numa palavra, o que a alma é no corpo, os cristãos são no mundo. A alma está na verdade distribuída como uma semente em todas as partes do corpo, como os cristãos que moram em todas as cidades do mundo. A alma mora no corpo mas não é de modo algum corpo. Assim são os cristãos, que vivem no mundo mas não fazem parte dele.”
(Este texto - de autoria desconhecida - foi escrito por volta do ano 200, em Alexandria, e mostra como os cristãos eram vistos por seus contemporâneos.)
“Os cristãos não tem nada de diferente, comparados aos outros homens: nem as comunidades nas quais eles moram, nem a língua que falam, nem as roupas que vestem. Eles não vivem em locais apartes nem utilizam uma linguagem particular. Sua vida é normal... Eles estão espalhados nas cidades gregas ou bárbaras, vivendo segundo as condições de cada uma delas, e adaptando-se aos costumes do lugar no que diz respeito às vestimentas, à alimentação, à maneira de viver. Mas ao mesmo tempo eles seguem leis extraordinárias, que podem parecer paradoxais, de sua república espiritual.
Os cristãos residem cada um em sua pátria, mas permanecem nela como estrangeiros que ali moram. Participam de tudo, como cidadãos, mas suportam todos os encargos como estrangeiros. Toda terra estrangeira é para eles uma pátria e toda pátria é terra estrangeira.
Eles se casam como todo mundo, tem filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. São feitos de carne, mas não vivem segundo a carne.
Eles passam a vida na Terra, mas são cidadãos do céu. Obedecem às leis vigentes, mas por sua maneira de viver são vitoriosos sobre as leis. Eles amam todos os homens, mas todos os perseguem. Eles são desrespeitados, são condenados e mortos: e é nesse momento que ganham a vida. Eles são pobres, mas todos enriquecem à sua custa. Não tem nada, mas possuem tudo. Encontram sua glória no desprezo e sua justificam na calúnia. Eles bendizem os que os insultam, honram os que os ultrajam.
Eles, que só fazem o bem, são punidos como celerado, mas se regozijam no castigo, pois isso os faz nascer para a vida.
Numa palavra, o que a alma é no corpo, os cristãos são no mundo. A alma está na verdade distribuída como uma semente em todas as partes do corpo, como os cristãos que moram em todas as cidades do mundo. A alma mora no corpo mas não é de modo algum corpo. Assim são os cristãos, que vivem no mundo mas não fazem parte dele.”
Paradas Vitais
Na sala de espera,
a vida passa
a perna no tempo.
É quando você repara, sem graça,
no calendário rápido e lento.
Escrivaninha
Folhas em branco,
alvas e inefáveis
como o meu banzo.
Oboés perdidos, palavras banidas
que assim eu canto.
Um Segundo Contigo
Voa, suave, solta,
escapando do varal,
aquela nossa velha colcha.
Quando crescer,
e que não seja logo,
quero morar nesta vizinhança.
Deitarei ao teu colo
para lembrar de quando criança.
Hannah
Um polvo na minha banheira,
com seu tentáculo
abre a torneira.
Nas janelas, o espetáculo
de pandorgas em ardil.
Tudo porque hoje,
ao me ver, ela sorriu.
Seis Meses
Inocente.
Candura.
Angelical.
Loucura.
Filhinho que dorme em meus braços.
Urubus
As asas
sobre as casas
em brasas.
Moro no morro
onde todos os dias
eu morro.
Dá pra trocar?
Ah, se pudesse,
um americano.
Ah, se crescesse,
republicano.
Não dá não, Zé.
Tu és brasileiro e provinciano.
Primeiro Beijo
Bélicos
lábios
psicodélicos.
Cartão Postal
Há tanto para dizer, querida,
que não traduzo em frases.
Tais sentimentos não cabem na escrita
gravada com erros graves.
Emocionado, em lágrimas me tranco.
Logo, não me censures, meu bem,
pelo singelo cartão em branco.
Absorto
Quietude plena. Eu e minhas velhas botas.
E o trem perdido que não vinha.
Cidade abandonada. Mastigo bergamotas.
Solto um peido. Nenhuma companhia.
Constatação (às cinco da madrugada)
Ninguém está imune
à grandiosidade de suas próprias idéias
e à chinelada da maturidade alheia.
Na sala de espera,
a vida passa
a perna no tempo.
É quando você repara, sem graça,
no calendário rápido e lento.
Escrivaninha
Folhas em branco,
alvas e inefáveis
como o meu banzo.
Oboés perdidos, palavras banidas
que assim eu canto.
Um Segundo Contigo
Voa, suave, solta,
escapando do varal,
aquela nossa velha colcha.
Quando crescer,
e que não seja logo,
quero morar nesta vizinhança.
Deitarei ao teu colo
para lembrar de quando criança.
Hannah
Um polvo na minha banheira,
com seu tentáculo
abre a torneira.
Nas janelas, o espetáculo
de pandorgas em ardil.
Tudo porque hoje,
ao me ver, ela sorriu.
Seis Meses
Inocente.
Candura.
Angelical.
Loucura.
Filhinho que dorme em meus braços.
Urubus
As asas
sobre as casas
em brasas.
Moro no morro
onde todos os dias
eu morro.
Dá pra trocar?
Ah, se pudesse,
um americano.
Ah, se crescesse,
republicano.
Não dá não, Zé.
Tu és brasileiro e provinciano.
Primeiro Beijo
Bélicos
lábios
psicodélicos.
Cartão Postal
Há tanto para dizer, querida,
que não traduzo em frases.
Tais sentimentos não cabem na escrita
gravada com erros graves.
Emocionado, em lágrimas me tranco.
Logo, não me censures, meu bem,
pelo singelo cartão em branco.
Absorto
Quietude plena. Eu e minhas velhas botas.
E o trem perdido que não vinha.
Cidade abandonada. Mastigo bergamotas.
Solto um peido. Nenhuma companhia.
Constatação (às cinco da madrugada)
Ninguém está imune
à grandiosidade de suas próprias idéias
e à chinelada da maturidade alheia.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
OLÁ !
MAIS DO MESMO (O discurso é empolado, mas não chega a assustar.)
Este espaço quase invisível é uma tentativa de compulsar lembretes e impressões, que por precipitação compartilho com quaisquer visitantes. A despeito de minha estultice patológica, procuro burilar certo tirocínio (assim exposto à interação dialética), substrato ardido de um órfão existencialista, atribulado por cagadas acachapantes.
Na licença da improvisada digressão, apresento-me como um animal que aos nove anos de idade buscou compreender a Bíblia, por interesse próprio. Vida que segue, esmerou-se em interpelar peregrinos de vicissitudes axiológicas: catolicismo, candomblé, kardecismo, zen-budismo, islamismo, taoísmo, confucionismo, filosofia... Decorridas algumas décadas, ainda me surpreende a ínfima relevância que a maioria ocidental destina, na pragmática do cotidiano, a questões ditas abstratas ou metafísicas, amiúde relegadas a rituais e idiossincrasias de credo.
Tal pastiche de muitas(?) leituras e observações empíricas, diuturnamente influenciado pelo móvel da ponderação, revela-se com alguma fragilidade, algo transitório e anímico. Espeque serôdio – senão írrito e pernóstico em seu gongorismo - de um manifesto fundo de quintal, como protesto a detratores soslaios da espiritualidade bíblica. Afinal, quando o mundo é bombardeado de sofismas capciosos, aleivosias espúrias, despautérios e protoacademicismos a par da beleza profunda das Escrituras Sagradas; quando os valores fundamentais da reflexão moral são rechaçados qual moeda podre pela ignomínia do "orbe canem"... Resta o levante da boa fé, pacífico e ordeiro, a protagonizar uma resistência premente no tecido social, não como bastião ou paladino de institutos erigidos por organizações humanas – naturalmente corruptíveis, portanto – e sim em corolário ao estarrecedor descalabro planetário.
Este espaço quase invisível é uma tentativa de compulsar lembretes e impressões, que por precipitação compartilho com quaisquer visitantes. A despeito de minha estultice patológica, procuro burilar certo tirocínio (assim exposto à interação dialética), substrato ardido de um órfão existencialista, atribulado por cagadas acachapantes.
Na licença da improvisada digressão, apresento-me como um animal que aos nove anos de idade buscou compreender a Bíblia, por interesse próprio. Vida que segue, esmerou-se em interpelar peregrinos de vicissitudes axiológicas: catolicismo, candomblé, kardecismo, zen-budismo, islamismo, taoísmo, confucionismo, filosofia... Decorridas algumas décadas, ainda me surpreende a ínfima relevância que a maioria ocidental destina, na pragmática do cotidiano, a questões ditas abstratas ou metafísicas, amiúde relegadas a rituais e idiossincrasias de credo.
Tal pastiche de muitas(?) leituras e observações empíricas, diuturnamente influenciado pelo móvel da ponderação, revela-se com alguma fragilidade, algo transitório e anímico. Espeque serôdio – senão írrito e pernóstico em seu gongorismo - de um manifesto fundo de quintal, como protesto a detratores soslaios da espiritualidade bíblica. Afinal, quando o mundo é bombardeado de sofismas capciosos, aleivosias espúrias, despautérios e protoacademicismos a par da beleza profunda das Escrituras Sagradas; quando os valores fundamentais da reflexão moral são rechaçados qual moeda podre pela ignomínia do "orbe canem"... Resta o levante da boa fé, pacífico e ordeiro, a protagonizar uma resistência premente no tecido social, não como bastião ou paladino de institutos erigidos por organizações humanas – naturalmente corruptíveis, portanto – e sim em corolário ao estarrecedor descalabro planetário.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
TEOSÓFICA
Cercado, fortalecido, imbuído do Bem.
(“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,
guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.”)
O que receio (...) a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo. Porém, um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.
Na solitude da floresta, densa e muda, quase a intimidar. Nos minutos que precedem uma hemodiálise, um parto, uma quimioterapia. Observa.
A chuva forte, gélida, advinda de nuvens ruidosas, muito escuras.
Quando somos agredidos e a raiva cede, inexplicavelmente (contrariando as estatísticas do nosso histórico), à razão de cima. Mansidão supra-holística, gigantesca, que arrebata, acolhe.
Há uma volição inominada pelos céticos, êxtase que perdura na coletividade das tendas acampadas em reduto santo. Então percebes o Criador visitar teu corpo, mente e espírito; choras por contentamento. Epifania!
Brinca com Ele, estás em segurança e júbilo. Não resta qualquer mácula ou dor; transborda a paz radiante, brisa que afaga teu rosto álacre.
SE DEUS VESTE ASSIM A ERVA DO CAMPO, QUE HOJE EXISTE E AMANHÃ É LANÇADA AO FOGO, NÃO VESTIRÁ MUITO MAIS A VOCÊS, HOMENS DE PEQUENA FÉ? (Mateus 6:30)
NÃO TE DEIXES VENCER PELO MAL, MAS VENCE O MAL COM O BEM. (Romanos 12:21)
AS MINHAS OVELHAS OUVEM A MINHA VOZ. (João 10:27)
ESTE É O CULTO RACIONAL DE VOCÊS. NÃO SE AMOLDEM AO PADRÃO DESTE MUNDO, MAS TRANSFORMEM-SE PELA RENOVAÇÃO DA SUA MENTE, PARA QUE SEJAM CAPAZES DE EXPERIMENTAR E COMPROVAR A BOA, AGRADÁVEL E PERFEITA VONTADE DE DEUS (Romanos 12:1-2)
(“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,
guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.”)
O que receio (...) a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo. Porém, um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.
Na solitude da floresta, densa e muda, quase a intimidar. Nos minutos que precedem uma hemodiálise, um parto, uma quimioterapia. Observa.
A chuva forte, gélida, advinda de nuvens ruidosas, muito escuras.
Quando somos agredidos e a raiva cede, inexplicavelmente (contrariando as estatísticas do nosso histórico), à razão de cima. Mansidão supra-holística, gigantesca, que arrebata, acolhe.
Há uma volição inominada pelos céticos, êxtase que perdura na coletividade das tendas acampadas em reduto santo. Então percebes o Criador visitar teu corpo, mente e espírito; choras por contentamento. Epifania!
Brinca com Ele, estás em segurança e júbilo. Não resta qualquer mácula ou dor; transborda a paz radiante, brisa que afaga teu rosto álacre.
SE DEUS VESTE ASSIM A ERVA DO CAMPO, QUE HOJE EXISTE E AMANHÃ É LANÇADA AO FOGO, NÃO VESTIRÁ MUITO MAIS A VOCÊS, HOMENS DE PEQUENA FÉ? (Mateus 6:30)
NÃO TE DEIXES VENCER PELO MAL, MAS VENCE O MAL COM O BEM. (Romanos 12:21)
AS MINHAS OVELHAS OUVEM A MINHA VOZ. (João 10:27)
ESTE É O CULTO RACIONAL DE VOCÊS. NÃO SE AMOLDEM AO PADRÃO DESTE MUNDO, MAS TRANSFORMEM-SE PELA RENOVAÇÃO DA SUA MENTE, PARA QUE SEJAM CAPAZES DE EXPERIMENTAR E COMPROVAR A BOA, AGRADÁVEL E PERFEITA VONTADE DE DEUS (Romanos 12:1-2)
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
PARA ME OUVIR (da série "tem gosto pra tudo...")
Buenas, cambada, segue o endereço para os incautos conferirem algumas gravações deste que vos escreve (boa parte delas flerta com o ritmo eletronic dance, composta no computador):
www.myspace.com/clebertonxexeu
www.myspace.com/clebertonxexeu
What a f.?!
QUEM É A TRIBO ANACRÔNICA
Intui-se, apenas um grupo de poucas almas anônimas, dispersas em um mundo estranho. Criaturas anfóteras, acuadas pela artificialidade das relações, pelos signos igualmente rasos das grandes massas, máxime do canhestro viés do consumismo autofágico, da tecnologia e solitude galopantes. (E o prazer, por que não dura? E a minha felicidade, onde foi parar essa malvada?) Como sói em sua rotina sufocante, provavelmente essas crianças sejam capturadas por desconhecida taxionomia - atavismo ou resquício de uma subcultura lírica soterrada pela demanda fugaz; ilhéus ou exploradores perdidos, neoclássicos remanescentes de uma mítica belle epòque.
(?!) E na prática, de que estirpe de imbecis estamos nos referindo? Difícil restringí-los a uma depreensão. Gostam de escrever ao som de "Crash Test Dummies", "Brian Ferry", "Cocteau Twins" e outras cafonices. Apreciam as florestas e praias desertas. Amam os livros, os filmes e as atividades esportivas. Idolatram o bem, cujo ícone-mor é Jesus Cristo, mas padecem de paixões proibidas (contradições patéticas e velados escapismos). São detratores contumazes e bem humorados de si próprios. Filósofos sem diploma, religiosos sem cacife. Oradores desprovidos de facúndia, escritores diletantes. Arquetípicos: insones artistas mutilados de talento.
Destituídos de razão ou sequer do esforço recompensado a longo prazo, tais energúmenos imbricam-se em jaez paradoxal, ora ordinário por seus misteres, ora incomum pela tônica de suas deprecações. Enfim, essa é uma tribo ou clã de sonhadores incorrigíveis, lamentavelmente.
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