Após assistir – pela metade, confesso, pois não suportei tanta proficiência – a uma propaganda eleitoral cinematográfica, na televisão (mal)dita aberta, fui assombrado por mais uma receita caseira para se dar bem. Algo tão simples que beira o chulo, porém eficaz. Tudo muito tangencial, como a cornucópia de escândalos impunes deste país. Entrementes, de êxito incontestável, segundo a Economia.
Eita ferro, algo tão evidente e plausível! Essa epopeia poderia acontecer até mesmo com um caboclo estúpido como eu! Senão, vejamos: eu deveria, num ato de gênio da raça, inverter os valores publicitários (com breve licença do oxímoro) – ao fazer de minhas ululantes hipossuficiências (leia-se defeitos), azo para um orgulho de ser autêntico (leia-se grotesco), conhecedor verdadeiro do povão, afinal, carrega os mesmos vícios.
Como ponto de partida, deveria atuar no Sindicato dos Escritores Xexelentos e Obsessivos (SEXO), talvez amputar uma parte da orelha, cultivar um bigodaço tipo exportação (Olívio Dutra passaria fiasco), fazer carreira como carismático articulador em conflitos de interesses, mesclando demagogia, populismo e um ar de peão da família. Com o tempo – e algum patrocínio, seria alçado a proxeneta do erário... Qualquer úbere federal estaria de bom tamanho e, quem sabe, com muita sorte minha (ou azar alheio), seria laureado com honrarias internacionais, como benemérito paladino das causas sociais do terceiro mundão, ou até mesmo uma cadeira cativa do colorado – e, de quebra, beneficiário de uma polpuda aposentadoria precoce.
Mano, viaja comigo na maionese... Isso não seria muito difícil de acontecer, seria?
(...)
Contudo... Chega de delírios, velho Juca. Tarde demais pra ti, agora que já cursaste faculdade e pós-graduação, oriundo de um lar de classe média, atrelada a valores morais, éticos e religiosos, vítima não da estiagem do sertão, mas da inócua formação acadêmica. Não foste um retirante ao estilo pau de arara, mas um vil estudante bilíngue desprovido de carteirinha da UNE, leitor voraz - redator anoréxico, inobstante - cujo perfil, algo profligado elitista, não favorece a uma candidatura. Agora, filho, se fossem fazer um filme sobre tua vida, provavelmente seria uma sonolenta pornochanchada. ...Pois quando nasci, um garçom manco, desses que vivem na noite, disse: Vai, seu Carlos, registrar teu filho Juca no Cartório do Brasil.
Arriégua, XexéuÉ, negrinho, este é o país da CORRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRUPÇÃO! Bra-siu-siu-siu!
Parafraseando Sartre, em Brasília: corrupção os outros!
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