Os registros bíblicos, que compõem a Palavra de Deus para a humanidade, são um extrato interativo entre o Criador e suas diminutas, ínfimas –e a um só tempo valiosas- microcriaturas. Ciente da precariedade dos nossos recursos, a Origem usou de adaptações linguísticas para se fazer parcialmente compreendida. Algo parecido com o que empregamos quando conversamos com as crianças. Por conseguinte, as Sagradas Escrituras não são rigorosamente perfeitas, uma vez que contaram com a participação de pessoas em sua confecção; não obstante, revelam-se como segura orientação de vida (em sua exegese holística).
Ao longo da História, Deus se comunica com um povo, para que esse passe a guardar e a transmitir sua mensagem. Cada integrante, desse longo processo, usou de suas características pessoais e culturais para transcrever o conteúdo recebido (rectius, a inspiração foi divina, a escrita foi humana).
Em um sentido moral-axiológico, "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma" (1 João 1:5), entrementes, na cosmogonia dedutiva ora considerada, postulo a apresentação de uma energia mater pré-conceitual. Em tal abstração, as silhuetas humanamente perceptíveis de Deus são formatadas, por indício cosmológico, como um modelo que lembra a energia escura (anterior à luz), cujo potencial derivativo possibilita a evolução das demais coisas.
Portanto, em sua constituição ampla, o Criador não se assemelha com suas criaturas. Sua vastidão não pode ser restringida a uma figura antropomórfica. Em minha epifania, Deus não é um senhor de barba hirsuta e longas cãs, mas uma justaposição infinita de energia (o seu “corpo”, quando não representado por uma ideia, cabível no microentendimento terreno).
Ressalvo, premido pela veracidade de sua Palavra, que Deus não pode ser assimilado como uma convergência panteísta, mas talvez – e repiso o “talvez” – admita uma contemplação supranatural, próxima a um “hiperpanteísmo”: na medida em que todas as coisas geradas não podem estar fora do alcance precípuo da Origem, esse espaço-tempo multidimensional tudo contém, todavia, preservando algo mais, i.e., uma “personalidade” própria (indecifrável e, paradoxalmente, comunicável na extensa e intricada rede de suas derivações).
“E disse Deus: Haja luz; e houve luz.” (Gênesis 1:3)
“Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz (...)” (2Coríntios 4:6)
“A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz.” (Salmos 139:12)
"Eu formo a luz e crio as trevas” (Isaías 45:7)
Vislumbro, com efeito, um universo em que nada, nenhum ser possa se ufanar por uma autoexistência ou uma independência absoluta de Deus (a despeito da aparente “neutralidade” divina). A queda de Lúcifer e seu séquito ocorreu por essa discrepância rebelde. Assim, até mesmo a oposição não pode subsistir sem um legado do Altíssimo (o qual, por sua natureza inescrutável, demonstra uma paciência altruísta e digna, majestosamente respeitosa até mesmo para com aqueles que utilizam uma concedida liberdade para fins prejudiciais). Vale lembrar, nesse contexto, que ninguém é obrigado a participar do reino celeste...
Como interpreto a Santíssima Triunidade
Jesus Cristo figura a presença de Deus encarnado, como mensageiro e tradutor da natureza divina. Além de propiciar a graça expiatória (vicariante), seu papel de Filho inculca a guinada de paradigma secular, qual seja, a de servo – epônimo de obediência, humildade e poder altruísta – que projeta liderança; sua revolucionária autoridade dócil provém da excelência de caráter (perfeição de conduta, santidade, mansidão, empatia, sabedoria, etc.)
Enquanto que o Espírito Santo personifica o elo permanente entre o Alto insondável (Deus, o Pai) e a criação. Logo, trata-se de uma Entidade que interage por três aspectos “físicos” ou identificáveis, simultaneamente. (Nessa ocasião sim, encontro certa similitude para com as suas criaturas humanas, dotadas de corpo, alma –ou mente- e espírito, cuja sinergia de características concomitantes torna-se mais evidente.)
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