Desejaria ter o que dizer, a todo alguém que eu encontrasse. Na verdade, eu até possuo a mensagem – mas padeço o tormento de ignorar a maneira adequada para expressá-la. (Cada ouvinte é uma estação particular.)
Em princípio, eu saberia o assunto a tratar com o vizinho desconhecido, o transeunte apressado na rua, a criança no quarto de hospital, a profissional multiatarefada, a turma de estrangeiros turistas. Cada pessoa que surge em meu campo de visão. Para meu desconcerto, no entanto, minha habilidade postiça tende a sabotar a chance de compartilhar esse tesouro.
Isso pode soar um tanto arrogante ou proselitista. Uma simples alma se achar munida de uma mensagem relevante, não importa quão alienígena seja o seu interlocutor. De certa forma, a maioria dos internautas já assim se comporta, por meio de suas autopromoções nas redes sociais (hiperbólico, diria que 90% delas estão agindo por exibicionismo, em uma pueril exposição competitiva de egos, assim resumo).
A ocasião de um ser humano demonstrar interesse em anunciar algo que julga ser capital, diante do mundo inteiro, pode ser visto – por que não? – como um gesto de megalomania ou prepotência. Por outro lado, tente colocar-se na pele de alguém que acredita, com todas as razões e forças, ter encontrado o maior de todos os bens e objetivos: o significado desta vida. Não seria um tremendo desprezo à humanidade guardar apenas para si essa maravilhosa descoberta?
Querido(a) estranho(a): neste instante, eu não posso apreciar o seu rosto, sorrir para você ou apertar a sua mão. Nem mesmo conhecerei o seu nome. Assim mesmo, ouso pedir um pouquinho mais de paciência para com a minha condição de evangélico.
Obrigado por sua atenção. Tenha uma boa semana!
(Obs.: Para um crente, “cristão” significa ser discípulo de Cristo. Portanto, alguém que procura sinceramente abdicar das tendências profanas do mundo, para levar uma vida pautada pelas verdades bíblicas. Nesse compromisso de “sede santos, assim como eu sou santo”, bem como “quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, a leitura dos Testamentos deve ser espontaneamente diária, algo tão natural como tomar banho e fazer as refeições, porém mais precioso do que respirar. E isso, amigos, definitivamente é algo muito difícil de ser compreendido pelas confusões das sociedades.)
- - - - -
Em tempo: por que não nascemos melhores?
Dentre as mais corriqueiras objeções contra as Sagradas Escrituras, na acepção dos céticos, desponta a refutação sobre quão sagradas seriam elas. Aos que rejeitam sua validade, tão somente por terem sido elas redigidas por homens, sugiro maior ponderação. Sim, evidente que elas foram escritas por mãos humanas. Estranho seria se afirmássemos que foram "despencadas dos céus", i.e., exaradas direta e exclusivamente por Deus.
Provavelmente, o aspecto principal para analisarmos esse código de instruções morais, filosóficas e religiosas (espirituais) esteja na utilidade real dos seus ensinamentos. Enfim, pelos resultados de quem os pratica. E para que possamos extrair lições profícuas da milenar narrativa, necessitamos observar a interessante variação de recursos, linguísticos e literários, aduzidos na historicidade hebraica. Mormente, é de precípuo expediente a familiaridade dos leitores com a canonicidade e a contextualização dos manuscritos compilados.
Em palavras breves, repiso que a Bíblia – como acena sua etimologia grega – é uma coletânea de livros, realizada comparativamente por lideranças e estudiosos das igrejas judaica e cristã. Um dos critérios adotados para selecionar ou descartar um texto, como se esperaria, foi o da coerência desse com os demais, bem como a similitude com outros de uma época próxima. Por esse prisma, portanto, uma diversidade de textos feitos há poucos séculos (notoriamente, oriundos de copistas obscuros da Idade Média) é considerada apócrifa, ou seja, não tem reconhecida a sua autenticidade com referência ao conjunto bíblico.
Com efeito, não é de se estranhar - pelo menos para quem acompanha o complexo cotejo teológico dos Testamentos - que volta e meia apareçam textos sensacionalistas na mídia, afirmando inconsistências tais como Jesus Cristo casado e com filhos, ou ter sido homossexual, ou então não ter nem sequer existido. À luz dos minuciosos estudos arqueológicos e literários - pela comunidade científica em todo o mundo, ao longo do tempo – essas “revelações” bombásticas não prosperam, nem mesmo remotamente. Historiadores que viveram na Antiguidade, boa parte deles não cristãos (a exemplo do judeu Flávio Josefo e dos romanos Plínio, o Moço e Suetônio), já retratavam fatos mais críveis e razoáveis, corroborando uma ortodoxia exegética.
Dito isso, proponho a seguinte reflexão como subsídio de resposta, à questão que intitula a presente resenha: a Bíblia é antologia sinótica a duas das maiores religiões existentes, bem como é o mais antigo manual da fé monoteísta. Outrossim, no tocante ao messianismo de Jesus Cristo, ninguém mais na Terra afirmou ser Filho de Deus (nem Buda, nem Maomé ou qualquer outro líder religioso), quanto mais demonstrou provas de estar falando a verdade (máxime, pela ressurreição, testemunhada por diversos judeus daquele momento). Eis o maior constrangimento dialético já disposto à humanidade: ou Jesus Cristo foi um mentiroso, ou é Deus na condição de pessoa. Ponto final. A partir daí, vai da escolha dicotômica de cada um. Pois não há margem para o nazareno servir apenas como um modelo de conduta ou um mestre inspirador (afinal, ressalto, ou foi Ele um farsante, ou é o próprio caminho estreito até o Reino do Pai).
“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.” João 5:39